O Dicionário Biográfico de Cinema#64: Jim Carrey


Jim Carrey, n. Newmarket, Ontario, Canadá, 1962.

No espaço de dois anos, foi de um salário de 350 mil dólares em Ace Ventura, Pet Dectetive [Ace Ventura: Um Detetive Diferente] (94, Tom Shadyac) a ser avaliado na base de 20 milhões por filme. Não importa se ele se comporta como se estivesse em um mundo selvagem ou louco - pouco importa que sua própria face e figura pareçam elásticas, prontas a esticar com sonhos e horrores. Ele é um autêntico clown, muito enérgico, furiosamente "ligado", mas curiosamente dependente que os outros se interessem por seu material. Tem sido comparado a Jerry Lewis, e Lewis aparentemente pediu a Carrey que considerasse uma refilmagem de The Patsy [O Otário]. Mas Lewis sempre foi o mestre de seu próprio material - talvez por essa razão tenha gradualmente conquistado a reputação e a atmosfera de um monstro, de alguém longe de ser simplesmente engraçado. Ao passo que é vital para o personagem de Carrey que pareça decente, gentil, bem mais relaxado, e até mesmo - vamos encarar a realidade - atraente! Jim Carrey é sexy? Ou desejaria ser?

Apesar de frequentemente descrito como sucesso da noite para o dia, a noite foi longa e a preparação árdua. Trabalhou no Canadá quando criança, e só muito lentamente encontrou seu caminho na televisão: seu programa de 1984, The Duck Factory, fracassou em três meses, ainda que seu personagem - Skip Tarkenton, um cartunista inocente e entusiasmado - seria de grande influência em seu futuro. Ele de fato havia se tornado James Carrey pela época de In Living Color, que estreou em 1990 e do qual foi um dos poucos intérpretes brancos. Foi lá que começou a atrair atenção como um cômico  fisicamente criativo, com um instinto para personagens que mesclavam vulnerabilidade e bizarrice. 

Tem feito filmes: Finders Keepers [Achado Não é Roubado] (84, Richard Lester); Once Bitten [Procura-se Rapaz Virgem] (85, Howard Storm); Peggye Sue Got Married [Peggue Sue, seu Passado a Espera] (86, Francis Ford Coppola); The Dead Pool [Dirty Harry na Lista Negra] (88, Buddy Van Horn); Earth Girls are Easy [Meu Amante é de Outro Mundo] (89, Julien Temple); Pink Cadillac [Cadillac Cor-de-Rosa] (89, Van Horn). Mas se manteve distante da tela grande por anos durante In Living Color, e somente retornaria com o primeiro veículo para Ace Ventura.

Depois disso, a ascensão foi bem rápida: The Mask  [O Máscara] (94, Charles Russell), confiou muito nos efeitos, e foi muito mais violento e perturbador que confortável para sua plateia natural infantil, mas o espírito de Carrey brilhou ao longo dele, e as melhores partes do filme são um fascinante acréscimo do princípio Jekyll e Hyde. Dumb and Dumber [Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros] (Peter Farrelly, 94), foi um enorme sucesso, e seu apelo junto às crianças pequenas tinha tanto a ver com as piadas grosseiras como em agir estupidamente. (Notem que enquanto Jeff Daniels fez um bom papel, esse papel quase foi parar com um amigo próximo de Carrey, Nicolas Cage. E é muito instrutivo sobre ambos que ainda desejassem trabalhar juntos). 

Então o Riddler de Carrey o transformou em uma estrela em Batman Forever [Batman Eternamente] (95, Joel Schumaker), gracioso, mas verdadeiramente sinistro, e com uma magistral zombaria em seu próprio arriscado campo kitsch. Além do que, Carrey moveu-se para algo próximo da graça. Ace Ventura: When Nature Calls [Ace Ventura 2: Um Maluco na África] (95, Steve Oedekerke) foi uma sequencia rotineira, curta nas ideias, e buscando compensar com piadas de banheiro. Mas The Cable Guy [O Pentelho] (96, Ben Stiller) - um fracasso - foi seu trabalho mais sombrio, dependendo de um tipo de verdade perigosa ou maníaca. Liar Liar [O Mentiroso] (97, Shadyac), foi próximo do desamparo de Jerry Lewis, impulsionado e ordenado por algum truque da natureza. 

O filme que esclareceu, e fez avançar a ambição artística de Carrey, naturalmente, foi The Truman Show [O Show de Truman: O Show da Vida] (99, Peter Weir), um brilhante noir inimaginável sem Carrey, e ampla prova da espera do ator por trás do figurino de clown. Mais que tudo, a tragédia não totalmente entregue nessa história deveu muito ao despertar da dor de Carrey - sua busca mesmo por ela? Seu próximo papel cinematográfico, como Andy em Man in the Moon [O Mundo de Andy] (99, Milos Forman), não foi nem próximo de tão bem sucedido, mas demonstrou a coragem com que Carrey estava disposto a testar sua própria base de fãs. 

Onde isso terminará? Ou começará? Ainda é o próprio Carrey, ou ainda crescendo? Me, Myself and Irene [Eu, Eu Mesmo e Irene] (Irmãos Farrelly, 00) foi outra brilhante pequena comédia que expunha o demônio dentro da beleza. How the Grinch Stole Christmas [O Grinch] (Ron Howard, 2000) foi aparentemente um pouco demasiado grotesco para algumas crianças. Porém foi um estrondoso sucesso e uma peça a mais de pantomima estática, revelando fabulosos níveis de misantropia. Mas então The Majestic [Cine Majestic] (01, Frank Darabont), horrível, desorientado, e com Carrey na TV a promovê-lo, tão incrivelmente bom que parecia precisar explodir. Então, talvez ele não tenha iniciado ainda. De todo modo, se você duvida do poder de um gênio precipitado, não natural, não guiado, apenas olhe para Carrey.

Houve outro desapontamento (embora sucesso de  bilheteria) com Bruce Almighty [Todo Poderoso] (Shadyac, 2003), mas uma vez mais pareceu razoável que Carrey possa passar de mortal a deus, e voltar, numa velocidade vertiginosa. Está em Eternal Sunshine of Spotless Mind [Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças] (Michel Gondry, 04) e foi o Conde Olaf em  A Series of Unfortunate Events [Desventuras em Série], do livro de Lemony Snickets. Ele adquriu cidadania norte-americana agora (assim como canadense), mas nenhum Oscar - ele também ocupa um estranho local, quase um "gênio fracassado", um fenômeno, mas frequentemente desapontado e deprimido com o que tem feito: Fun with Dick and Jane [As Loucuras de Dick & Jane] (05, Dean Parisot); The Number 23 [Número 23] (07, Joel Schumacher) - uma brilhante concepção, mas falha no tom; uma voz em Horton Wears a Who! [Horton e o Mundo dos Quem!] (08, Jimmy Hayward e Steve Marino); Yes Man [Sim Senhor] (08, Peyton Reed); e A Christmas Carol [Os Fantasmas de Scrooge] (09, Robert Zemeckis). 

Apareceu na TV em The Office; Mr. Popper's Penguins [Os Pinguins do Papai] (11, Mark Waters); The Incredible Burt Wonderstone [O Incrível Mágico Burt Wonderstone] (13, Don Scardino); Kick-Ass 2  (13, Jeff Wadlow); Dumb and Dumber To [Debi & Lóide 2] (Irmãos Farrelly, 14).

Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Nova York, Knopf, 2014, pp. 412-4. 
 

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