Filme do Dia: Tambores Distantes (1951), Raoul Walsh
Tambores Distantes (Distant Drums, EUA, 1951). Direção:
Raoul Walsh. Rot. Adaptado: Niven Busch & Martin Rackin, a partir de um
conto do primeiro. Fotografia: Sidney Hickox. Música: Max Steiner. Montagem:
Folmar Blangsted. Dir. de arte: Douglas Bacon. Cenografia: William Wallace.
Figurinos: Marjorie Best. Com: Gary Cooper, Mari Aldon, Richard Webb, Ray Teal,
Arthur Hunnicutt, Robert Barrat, Greg Barton.
Flórida. após destruir o forte
Seminole, soldados norte-americanos e os homens e mulheres que libertaram no
mesmo, vem-se acuados pela quantidade de índios que os seguem. Decidem partir
para o inóspito pântano de Everglades. Durante a sua difícil travessia terão
que passar pelo cemitério dos índios. Dentre os que fazem parte dos libertos no
forte, encontra-se a jovem Judy (Aldon), que quase imediatamente sente-se
atraída por Wyatt (Cooper). Seu sonho é voltar a Savannah e vingar a morte de
seu pai. Wyatt acredita que seu pequeno filho índio foi morto na cabana.
Há muito de western. E realizado por
alguém que os realizou às pencas. Mas mesmo assim esse filme surpreende – e não
necessariamente de forma positiva – ao início com paisagens que mais parecem
saídas de outros gêneros, apresentando o mar e embarcações como nos filmes de
aventura, e também uma paisagem insular que poucos vinculariam ao gênero. O
crédito duvidoso se dá pelo mau gosto das escolhas cenográficas, assim como
pela risível intervenção da montagem com imagens de arquivo, de textura
bastante diferenciada como sempre, a cada virada de rosto do recém-chegado. E
essa proximidade da água e ambientação na Flórida traz um ambiente por demais
aquoso para o gênero. Para não falar de todo o percurso pelo amedrontador
pântano de Everglades, muito mais próximo da aventura nas selvas, embora se
observe bem menos animais selvagens que no percurso de chegada do novato
Richard. Se os atores que representam os indígenas falam a língua deles, de
forma muito pouco espontânea, e aparentemente foram vividos pelos próprios
Seminole, não se trata exatamente de um aceno compreensivo para essa
alteridade. Índios somente possuem algum grau de humanidade quando já se
encontram próximos do homem branco, e sobretudo são sangue de Wyatt, como é o
caso de seu amado filho. Quando não, mesmo servindo aos branco e um deles
entendendo inglês, tem que escutar o fato de que são fedidos por passarem um
óleo para espantar os mosquitos e seu aperto de mãos interminável é como tirar
água de um poço. Wyatt não parece ser feito do mesmo material que os outros que
atravessam o pântano, e que parecem se encontrar no seu próprio limite. Ao
escolher como narrador interno o Tenente Richard, alguém de fato mais
instruído, o filme deixa igualmente insondáveis os sentimentos de Wyatt,
descolando-se boa parte de sua história do ponto de vista de quem narra. Com
todas suas falhas, e talvez não exatamente por sua intenção, desconstrói-se o
que se esperava ser uma muito mais acirrada competição entre o mancebo
civilizado e o caipira de fibra inabalável, e que também se exploraria algo
como um triângulo amoroso, a partir da figura de Judy, mas essas tensões ficam
relativamente sob suspensão. As mudanças dramáticas não deixam de ser
irritantemente previsíveis. Quase sempre que há uma cena de maior intimidade
entre o casal, pode-se preparar para alguma ação. Embora tenha sido filmado na
Flórida, dá uma impressão de ter sido realizado todo em estúdio. De certa
forma, é uma releitura de um filme de guerra em situação bastante
similar, dirigida pelo mesmo Walsh meia década antes, com resultados bem mais
interessantes, Um Punhado de Bravos.
Warner Bros./United States Pictures para Warner Bros. 101 minutos.
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