Filme do Dia: Des Annés Folles à l'Extermination (1979), Lionel Soukaz & Guy Hocquenghem

 


Des Annés Folles à l’ Extermination  (França, 1979). Direção e Rot. Original: Lionel Soukaz & Guy Hocquenghem. Fotografia: Lionel Soukaz. Com: Adeline André, Pierre-Hahn, Jean Demélier, Jean-Michel Sénécal, Michel Journiac.

Versão mais comportada e conforme os protocolos de um documentário de feições convencionais, portanto bem menos inventivo que o primeiro dos curtas (Le Temps de la Pose) que comporá o longa Race d’Ep. Ainda que aqui se cumpra mais plenamente com o objetivo proposto do documentário, que é o de fazer um apanhado panorâmico da história da homossexualidade em um século, enquanto o primeiro episódio se detém sobretudo sobre a figura de um pioneiro da fotografia homo-erótica. Aqui mal se respira tal a enxurrada de informações que são seguidas de exemplos que servem, sobretudo, como ilustradores da fala, mais uma vez demonstrando padrão de maior convencionalidade. Apresenta as ciladas da diferença, já que o mesmo almanaque que demonstra uma série de diferenças genéticas pretensamente a fundar uma diferença que o autor, à época, pretendia justificar incabíveis de sofrerem sanções penais, logo será apoderado pelo discurso nazista em sua rota de exterminíno das mesmas. A montagem é tão ou mais rápida que o próprio discurso. Por vezes abdicando das palavras de seu narrador over, substituídas por alguma canção aparentemente do período. Magnus Hirschfeld, pioneiro estudioso e militante do tema, é sua figura mais destacada (foi cinebiografado em O Einstein do Sexo, alcunha que lhe foi dada pelo New York Times, como mais adiante  se afirmará), criando seções locais de seu comitê em várias cidades europeias. Há toda uma visibilidade na sociedade alemã, com mais de vinte publicações devotadas ao “tema” e a criação de um órgão internacional (espécie de liga para a reforma homossexual) que possui mais de cem mil filiados. Na França, um movimento de menor intensidade cria o lema: “Uranianos de todo o mundo, uni-vos”. Hirschfeld faz com que Oswald filme Diferente dos Outros, uma das primeiras abordagens dramáticas envolvendo personagens homossexuais e com participação dele personificando a si próprio. Sua parte de encenação dramática, ocorre já com mais da metade de sua metragem. Em um de seus melhores achados, a secretária-protagonista do Instituto de Pesquisas Sexuais do Dr. Hirschfeld se arrepende de ter levado dois ratos que, distante das fêmeas, efetuavam práticas intersexuais (termo cunhado pelos cientistas vinculados ao Insituto), pois em questão de poucos anos, essa realidade se reproduziria com eles próprios como cobaias dos nazistas. Trata-se de uma das poucas produções, e uma das pioneiras, senão a primeira, a arriscar estatísticas sobre o número de homossexuais mortos pelo Nazismo (os “triângulos rosas”), cerca de 5 a 10 mil por ano entre 1934 e 1941. Já diretamente para a Gestapo arrisca cifras bem mais numerosas. “A única defesa que tinhámos era o esquecimento” diz a pretensa secretária, que tal como o então jovem que narra suas experiências como modelo de Le Temps de la Pose, podem ser tanto observações baseadas em um (ou mais) testemunhos históricos quanto criações ficcionais. No primeiro caso, são efetuadas por alguém que não as próprias pessoas que vivenciaram as situações históricas, já que as vozes correspondem a que teriam na idade em que são retratadas. Sua frase dá conta da introjeção de um processo repressivo que se segue ao trauma de todos os horrores da época nazista, que se tornaram um bloqueio para qualquer festividade associada à comunidade gay por parte da secretária.  Little Sisters Prod. 25 minutos.

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