Filme do Dia: Ninguém Está Olhando (2017), Julia Solomonoff

 


Ninguém Está Olhando (Nadie nos Mira, Argentina/EUA/Brasil/Colômbia/Espanha, 2017). Direção: Julia Solomonoff. Rot. Original: Christina Lazaridi & Julia Solomonoff. Fotografia: Lucio Bonelli. Música: Sacha Amback. Montagem: Pablo Barbieri Carrera, Karen Sztajnberg & Andrés Tambornino. Dir. de arte: Maite Perez-Nievas & Mar Urrestarazu. Figurinos: Begonia Berges & Marjory Castellanos. Com: Guillermo Pfening, Rafael Ferro, Paola Baldion, Mayte Montero, Elena Roger, Ana Carolina Lima, Kerri Sohn, Pascal Yen-Pfister, Cristina Morrison, Mirella Pascual.

Ator de série bem sucedida na Argentina, Nico (Pfening) vai viver em Nova York, tentando sua sorte profissional em um projeto cinematográfico que finda por não ocorrer, enquanto ele paga suas despesas com dificuldades, tornando-se baby-sitter do filho de Andrea (Roger), casada com Pascal (Yen-Pfistir), de boa situação econômica e padrão yuppie estabelecido. Quando tudo parece perdido, surge a influente Kara Reynolds (Morrison), a quem Nico se agarra como tábua de salvação de sua situação cada vez mais complicada, sobretudo após se desentender com Andrea, que não mais o quer cuidando de seu filho. Nico encontra-se no aeroporto de Nova York com Martin (Ferro), ex-amante e produtor da série que abandonou na Argentina. Os dois fazem sexo no banheiro do aeroporto. Martin o havia convidado para retornar à Argentina e a série, proposta prontamente recusada por Nico.

Produção extremamente constrangedora, sobretudo quando se pensa que assinada por uma realizadora que já havia tido oportunidade de demonstrar seu talento no trato das imagens e dos atores (El UltimoVerano de la Boyita). Fica-se com a impressão, péssima por sinal, de que se tentou realizar algo que surgiu como demanda de trabalho em uma safra não muito fértil. Tudo inspira desconfiança. Se a imagem chapada e de baixa resolução poderia sugerir um ingrediente a mais a favorecer um realismo cotidiano básico, as interpretações são absurdamente canhestras, não deixando que minimamente aquelas pessoas sejam amigas, amantes ou o que sejam, e nos fazendo lembrar das marcações de telenovelas latinas, tal sua falta de naturalidade e espontaneidade. Dito isso, ao mesmo tempo que o filme consegue crescer um pouco dramaticamente, inclusive nos fazendo imaginar sobre dificuldades que acometem qualquer profissional que sonha em se destacar em um universo tão competitivo quanto o do mercado de trabalho de Nova York, provoca  uma reação igualmente de certa irritação para com seu autocondescendente “herói”, percebendo-nos antever qual será o seu futuro com a pessoa influente que chega a anunciar como sua “madrinha” e uma pessoa generosa e que, pouco depois, sequer atenderá às suas ligações, restando-lhe como fonte de satisfação o sexo anônimo em algum inferninho. Ou lidando de forma ainda mais imatura com a frustração, praticando pequenos furtos em estabelecimentos comerciais. O título do filme poderia ter significados que transcendem o gesto de oportunismo de Martín, que no primeiro momento em que se vê a sós com Nico, canta-o, embora sua mulher e bebê estejam na mesma propriedade. De fato poderia significar, em um plano mais abstrato e genérico, que ninguém nos olha, algo que parece sobressaltado nas cenas em que Nico contempla solitário o skyline de Nova York, mas sendo apenas um rosto a mais, que deve, inclusive, por sugestão de Kara, pintar o cabelo para ter acesso a perfis de personagens mais tipicamente considerados latinos no país. Porém, traz embutido o enfrentamento de se lidar com essa realidade de ser adulto, de não ter que necessariamente contar com esse “anjo da guarda” a espreita que Nico busca se agarrar em sua temporada fora, carregando igualmente uma verve um tanto ressentida desse, que encontra na figura de Pfening, ou ao menos em sua interpretação, morada calorosa, o que não o torna exatamente digno de fácil empatia em sua empreitada fracassada. Seu retorno também não significa uma volta ao ponto de partida em que deixara, seja no plano profissional, ou afetivo, como demonstra a carga que representa ambos em Martin, de quem Nico demonstra não querer mais envolvimento. Petra Costa faz uma ponta com seu próprio nome, algo presente também no caso de outros atores do elenco Filmado aos poucos ao longo de três anos.   Lucia Murat foi uma das várias produtoras.CEPA Audiovisual/Mad Love Film Factory/Aleph Motion Pictures/Taiga Filmees/La Panda/Travesia Prod./Miss Wasabi/Schortcut Films/Epicentre Films. 102 minutos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar