Filme do Dia: O Capote (1952), Alberto Lattuada

 


O Capote (Il Cappotto, Itália, 1952). Direção: Alberto Lattuada. Rot. Adaptado: Alberto Lattuada, Giorgio Prosperi, Giordano Corsi, Enzo Curreli, Luigi Malerba, Leonardo Sinisgalli & Cesare Zavattini, a partir do conto O Capote, de Nikolai Gogol. Fotografia: Mario Montouri. Música: Felice Lattuada. Montagem: Eraldo Da Roma. Dir. de arte: Gianni Polidori. Cenografia: Sergio Baldacchini. Figurinos: Dario Cecchi. Com: Renato Rascel, Yvonne Sanson, Giulio Stival, Ettore Mattia, Giulio Cali, Anna Carena, Sandro Somarè, Silvio Bagolini.

O funcionário público Carmine de Carmine (Rascel), trabalha na prefeitura e tem ganhos parcos, sendo pouco considerado pelos colegas e possuindo um sobretudo tão gasto que possui um grande furo em sua gola. Carmine, devido o seu pouco tato, é desconsiderado pelo prefeito (Stival) e chega a ser demitido por seu secretário geral (Mattia), sendo imediatamente readmitido por interesses imediatos. Ele nutre uma paixão platônica pela bela vizinha Caterina (Sanson), amante do prefeito. Com suas economias e um bônus que ganha no trabalho decide encomendar um novo sobretudo a um alfaiate (Cali) e o estreia na noite do ano novo, roubando a atenção de todos ao dançar bêbado com Caterina e discursar em prol dos necessitados que reivindicam a anos causas suas junto a ele, sonhando em tê-lo como ponte entre eles e o prefeito. Ao voltar do baile é assaltado e perde seu sobretudo. Desesperado, torna-se cada vez mais doente, física e mentalmente, morrendo pouco após. Seu fantasma passa a assustar todos os que transitam pelos locais em que andava, incluindo o prefeito em visita a Caterina.

Essa adaptação não creditado do conto de Gogol, atualizada para a Itália à época contemporânea de sua produção, demonstra o que aproxima e distancia Lattuada de seu amigo próximo, Fellini, com quem havia compartilhado sua (de Fellini) estreia na direção (Mulheres e Luzes). Sem dúvida, o talento para garimpar tipos, inclusive fisionomicamente, extravagantes em um elenco que teria vários nomes compartilhados com produções do cineasta de Rimini talvez seja o que de mais aproximado se possa pensar. O estilo de humor de Lattuada, no entanto, aproxima-se mais aqui de uma dimensão  algo alegórica, mas bem distante do perfil de caricatura a partir de suas próprias memórias daquele. De fato, o pequeno e ridículo homem comum de Lattuada vivido por Rascel sofre com uma dimensão demasiado paternalista com que o personagem é descrito, porém ainda mais ridículo parece ser o universo estabelecido de corruptos, parasitas e oportunistas subservientes ao poder que o rodeia, numa evidente alusão ao mundo político italiano que antecipa, sob chave diferenciada, a sátira social que Aléa efetivará de Cuba na década seguinte com seu A Morte de um Burocrata. Se o comentário social de Lattuada parece mais incisivo e politicamente orientado que o de Fellini a extensão de sua crítica pelo humor fica algo prejudicada pela excessiva singeleza de seu personagem, um tanto chapliniano, cuja efetividade parece se dar somente após sua morte, sendo que o seu cortejo cruzará justamente o palanque em que o prefeito profere um discurso bastante inócuo, temporariamente roubando a cena e por breve momento, pois o seu ressurgimento enquanto fantasma também demonstra ser trabalhado de forma algo excessiva. Kozintsev e Trauberg, cineastas vinculados a Fábrica do Ator Excêntrico soviético haviam efetuado uma adaptação do conto em 1926 e outra produção soviética se seguiria ao final dos anos 50. Um clássico exemplo de narrativa cinematográfica centrada na identificação entre uniforme e status social de um homem sem posses, com resultados igualmente dramáticos, havia sido A Última Gargalhada (1924), de Murnau.  Destaque para a fotografia primorosa em p&b. Faro Film/Titanus. 95 minutos.

 

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