Filme do Dia: Maria do Mar (1930), José Leitão de Barros
Maria do Mar (Portugal, 1930).
Direção: José Leitão de Barros. Rot. Original: José Leitão de Barros &
António Lopes Ribeiro. Fotografia: Salazar Dinis & Manuel Luís Vieira. Montagem: José Leitão de Barros. Com: Rosa
Maria, Oliveira Martins, Adelina Abranches, Alves da Cunha, Perpétua dos
Santos, Horta e Costa, Maria Leo, António Duarte.
Maria (Maria) é filha do capitão de
barco de pesca Falacha (da Cunha) que fica malvisto no povoado após um
naufrágio em tempo ruim matar todos os pescadores com exceção dele próprio.
Maria apaixona-se, no entanto, por Manuel (Martins), filho de Aurélia (Abranches).
Quando casam as escondidas e depois vão buscar abrigo em casa das respectivas
famílias, não são aceitos. Conseguem um lugar para viver e tem uma filha, que
vem a ser atacada por um cão raivoso. O medo que a criança morra faz com que as
famílias de ambos deixem de lado suas diferenças.
Se é fato que sua tênue linha
narrativa se vê algo contemplada ao final do filme, pode-se afirmar sem medo
que este se encontra longe de conseguir a mesma verve narrativa e aproximação
de seus personagens, ao menos de forma orgânica, que produções de bem menor
pretensão e mais confessamente melodramáticas
que, inclusive, o antecedem por quase uma década, como Mulheres da Beira. Há uma influência evidente da vanguarda soviética nessa produção,
seja nos planos a captarem os rostos dos pescadores, seja nos filmados do alto
– como o da corrida desembalada dos moradores do povoado para se aproximarem da região do naufrágio –a
observar multidões (ainda que pequenas aqui) como formigas. Ou ainda quando
sobrepõe freneticamente na montagem os pais do bebê e o mesmo na situação
dramática final. Porém, se se pudesse
efetivar uma comparação, é como se o filme estivesse utilizando de recursos
estilísticos aproximados do cinema soviético para lidar com uma lógica discursiva
muito mais aproximada, em certo sentido, do melodrama griffitheano. Bem pior
que isso, no entanto, é a própria indecisão do filme cuja primeira metade dá
muita pouca atenção à própria Maria e se aproxima mais de algo como uma espécie
de visão do povoado observada em tom algo realista, algo folclorizante e só engrena
em relação a própria Maria na sua segunda metade. A seu favor existe o erotismo
brejeiro, mais bem sucedido que seu equivalente brasileiro contemporâneo, e com
cenas como a do pai que toca nos seios
da filha ao comentar sobre não ser ela mais uma menina. Ou ainda o flerte
inicial do casal. Assim como, igualmente, a sua notória subversão do clima
fatalista que impregnava a produção de então. SUS. 77
minutos.
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