Filme do Dia: Os Inconfidentes (1972), Joaquim Pedro de Andrade
Os Inconfidentes (Brasil/Itália,
1972). Direção: Joaquim Pedro de Andrade. Rot. Adaptado: Joaquim Pedro de
Andrade e Eduardo Escorel, a partir dos autos da devassa e de O Romanceiro da Incofidência de Cecília
Meireles. Fotografia: Pedro de Moraes. Montagem: Eduardo Escorel. Cenografia: Anísio Medeiros. Figurinos:
Teresa Nicolao. Com: José Wilker, Luiz Linhares, Paulo César Pereio, Fernando
Torres, Carlos Kroeber, Nélson Dantas, Carlos Gregório, Margarida Rey, Suzana
Gonçalves.
O traidor Silvério dos Reis delata a conspiração republicana que pretendia não
só assassina-lo como realizar o mesmo com boa parte da corte. Presos e
torturados, aos poucos os elementos de conspiração vão surgindo da boca não só
de Tiradentes (Wilker), como também do Visconde de Barbacena (Dantas), de
Alvarenga Peixoto (Kroeber), de Cláudio Manuel da Costa (Torres) e do poeta
Tomás Antônio Gonzaga (Linhares). O veredito da Rainha, Dona Maria (Gonçalves),
pune todos com o degredo e apenas Tiradentes com a morte.
Elegante ao mesclar a fluência visual
do seu elaborado trabalho de câmera com uma raramente bem sucedida incursão na
apresentação de diálogos literários que ganham uma vitalidade que apenas
reforçam com êxito a opção do cineasta pela recusa do viés naturalista. Faz bom
uso de interpretações diretamente para a câmera e efetiva uma leitura da
conspiração que passou a história como Inconfidência Mineira bem à altura da
interpretação marxista e em oposição ao que a história oficial do período
proclamava (ainda realça mais seu distanciamento do viés oficial ao finalizar,
a título de galhofa ironia, com cenas de
um documentário contemporâneo que apresenta uma comemoração laudatória
aos inconfidentes realizada na própria cidade histórica de São João Del Rey,
onde ocorreram os eventos; ou ainda quando utiliza Aquarela do Brasil, hino ufanista criado durante o Estado Novo, nos
créditos iniciais e finais). Seu viés marxista se faz presente na leitura que
apresenta todos os outros inconfidentes,
membros da elite social, humilhantemente
negando seus próprios ideais e acusando uns aos outros e somente Tiradentes, o
menos bem estabelecido, indo até o fim em sua cruzada radical contra os valores
da sociedade estabelecida. Desnecessário afirmar que as torturas vivenciadas
pelos inconfidentes servem como metáfora para as que se sucediam
contemporaneamente à produção do filme, nos porões do regime militar. Suas
interpretações não naturalistas e mise en
scene épica são tributárias, certamente, de experiências anteriores do
Cinema Novo e igualmente articuladas a um discurso político que procurava
refletir sobre a história e a realidade contemporânea do país em filmes como Os Herdeiros (1969) de Cacá Diegues e Terra em Transe (1967), de Gláuber Rocha. Filmes do Serro/Grupo Filmes/Mapa Filmes/RAI. 78 minutos.
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