Filme do Dia: Nas Montanhas dos Gorilas (1988), Michael Apted

 



Nas Montanhas dos Gorilas (Gorillas in the Mist: The Story of Dian Fossey, EUA, 1988). Direção: Michal Apted. Rot. Adaptado: Anna Hamilton Phelan, a partir do argumento dela própria e de Tab Murphy, baseaedo na obra de Dian Fossey e no artigo de Harold T.P. Hayes. Fotografia: John Seale. Música: Maurice Jarre. Montagem: Stuart Baird. Dir. de arte: John Greysmark & Ken Court. Cenografia: Simon Wakefield. Figurinos: Catherine Leterrier. Com: Sigourney Weaver, Bryan Brown, Julie Harris, John Omirah Miluwi, Iain Cuthbertson, Constantin Alexandrov, Waigwa Wachira, Iain Glen, David Lansbury, Maggie O’Neill.

Dian Fossey (Weaver), entusiasmada com uma palestra oferecida pelo renomado cientista Louis Leakey (Cuthbertson), decide oferecer seus serviços. Ela rapidamente se adapta às intempéries da região montanhosa do Nairobi e consegue criar uma relação afetuosa com um grupo de gorilas. À chegada do fotógrafo da National Geographic, que banca sua experiência na montanha, Bob Campbell (Brown), inicialmente reage com desconfiança, mas posteriormente se transforma em uma história de amor, ao qual ele chega a abdicar de seu casamento para viver com ela, mas que finda quando ela não o acompanha para uma proposta rentável de emprego. Fossey radicaliza em seus métodos de combater à caça predatória, sobretudo após a morte de seu gorila dileto, Digit, que já havia sido precedida pela de uma bebê gorila, a única restante de um grupo massacrado,  que chegara ocasionalmente a libertar do cativeiro e adotá-la por um tempo.

Talvez quem o conheça pela longeva série de documentários Up (1964-), não há muito o que comparar, embora a indagação mereceria ser invertida, no sentido de que não apenas o número de ficções que ele fez foi maior, como – e sobretudo – tiveram de longe maior repercussão internacional. E talvez nenhuma como essa. E quando embarca no ficcional, o faz sem meios termos. Sobretudo na ausência de sutileza que condimenta a massa da maior parte das ficções populares. Apted foi sagaz o suficiente para perceber que contradições e pequenos dramas vividos por aqueles que acompanhou desde pequenos não se prestariam como modelos distantes para pensar seus personagens ficcionais. No que acertou. Ao menos para o tipo de filme que se propõe. E, infelizmente, a carga de redundância sobre pesada para Weaver que, com o cruel distanciamento do tempo, parece a todo momento reforçar a identidade do que seria uma estrela de cinema de sua época – que já possuía uma persona cinematográfica ancorada na fibra do ainda recente Aliens, o Resgate – simulando ser Dian Fossey. E a trilha de Jarre sublinha as pequenas conquistas de Dian ou Bob, como o momento em que um gorila aperta mão dela ou que Bob consegue que a objetiva de sua câmera cinematográfica praticamente toque o rosto de um gorila, fazendo-nos ficar saudosos das lágrimas que uma trilha epicamente rasgada, como a de outro filme icônico da década ambientado no continente, Entre Dois Amores, poderia provocar – mas aqui não existe grandes dramas amorosos. No campo representacional da cultura, o filme não parece muito distinto de seus antecessores clássicos. A subida a montanha da expedição poderia ser interrompida a qualquer momento por um nativo gritando bwana. Ainda que um nativo tenha se transformado em guerrilheiro armado. A própria iconografia com que os africanos carregam os mantimentos parece nada distante dos tempos em que o cinema filmou As Aventuras de Stanley e Livingstone. Não falta sequer a figura do bom selvagem de Sembagare, fiel escudeiro. Porém, há também coisas boas a se dizer. Primeiro, ao dispender boa parte de sua longa metragem reconstituindo o contato entre Dian e os gorilas, inclusive apresentando esse contato com a atriz e um grupo – isso tudo numa época anterior às fáceis digitalizações. Depois, ao apresentar seus excessos, com colaboradores e, sobretudo, invasores e assassinos dos animais. E até mesmo ao arriscar equivalências entre ela e Digit, gorila que, tal como ela, era um desajustado em sua espécie, sendo sua morte também uma antecipação da dela. E, por fim, mas não menos importante, há um crescimento igualmente da própria Weaver no filme, do deslumbramento inicial, a uma tensão e enrijecimento, quase uma blindagem, ao final. Universal Pictures/Warner Bros./The Guber-Peters Co. para Universal Pictures. 129 minutos.

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