Filme do Dia: Juventude Perdida (1948), Pietro Germi
Juventude Perdida (Gioventù Perduta, Itália, 1948).
Direção: Pietro Germi. Rot. Original: Pietro Germi, Mario Monicelli, Antonio
Pietrangeli, Enzo Provenzale, Leopoldo Valeri, Bruno Trieste & Enrico
Ribulsi, a partir de argumento de Germi. Fotografia: Carlo Montuori. Música:
Carlo Rustichelli. Montagem: Renaldo May. Dir. de arte e Cenografia: Gianni
Mazzocca. Com: Carla Del Poggio, Massimo Girotti, Jacques Sernas, Franca
Maresa, Diana Borghese, Nando Bruno, Leo Garavaglia, Dino Baronetto.
Luisa Manfredi (Del Poggio), filha do
reconhecido professor universitário Pietro (Garavaglia), apaixona-se pelo
comissário de polícia Marcello Mariani (Girotti), que investiga ações criminais
do inescrupuloso irmão de Luisa, Stefano
(Sernas), envolvido com o jogo e a cantora de má reputação Stella (Borghese),
dentre elas um assalto a própria universidade onde trabalha o pai.
Demasiado colado ao universo do noir
norte-americano, do qual consegue se aproximar com bastante eficácia, ao menos
de forma mais capilar tanto em termos estilísticos ( trilha musical, exuberante direção de
fotografia, iluminação, figurinos) quanto motivacionais (suspense, personagens
como a da femme fatale e o
investigador), o filme se ressente dessa proximidade quando observado de forma
mais detida, traindo uma ênfase mais provinciana que aquele em ao menos dois
aspectos. Primeiro, a inserção da trama criminal associada à dimensão familiar
e, em última instância, fraternal. Depois, e não desvinculada dessa, um ethos muito mais conservador e menos
ambíguo, em termos morais, que seus congêneres do outro lado do Atlântico. De
fato, é como se o filme aderisse irrestritamente ao discurso do próprio pai de
Luisa e Stefano em suas prédicas, domésticas ou profissionais, sobre a
delinquência. Se no noir tal
contraposição maniqueísta de valores é habitualmente de longe mais nuançada e se
afasta da caricatura aqui entrevista (com Sernas encarnando com risível
afetação toda a sua “maldade”, algo que se estende em menor medida a todos os
outros personagens, incluindo o bom moço do galã Girotti – para efeitos
comparativos basta evocar a inteligente reflexão sobre essa polarização em
relação aos personagens masculinos principais em Laura) aqui é trabalhada de forma empobrecida, unidimensional e
irrestritamente reprodutora do status quo.
Uma comparação ainda mais cruel seria com JuventudeTransviada, em que se observa a figura do delinquente a partir dele próprio
e com visível identidade para com os mesmos. De uma maneira geral, ambos são
frutos das ansiedades com as mudanças comportamentais que afetaram diretamente
as estruturas familiares das sociedades no pós-guerra. Mesmo Germi tendo uma forte vinculação com
produções associadas, ainda que indiretamente, ao neorrealismo, aqui ele não
busca a conjugação de um cinema espetacular com pretextos sociais (a exemplo
dos contemporâneos Arroz Amargo, de
De Santis ou O Moinho do Pó de
Lattuada ou, de forma mais densa, o próprio Germi com Em Nome da Lei). A carência feminina que a leva a situações
extremas de roubo ou homicídio em locais remotos, pretensamente ideais para um
idílio amoroso, antecipa os posteriores Noites de Cabíria (1955), de Fellini e Entre Amigas (1960), de Chabrol. i Lux Film. 80 minutos.
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