Filme do Dia: Neptune Nonsense (1936), Burt Gillett & Tom Palmer

 


Neptune Nonsense (EUA, 1936). Direção: Burt Gillett & Tom Palmer. Música: Winston Sharples.

Ao dar bom dia a tudo e todos em sua casa, o Gato Félix descobre que o peixe que cria em seu aquário, Annabelle, encontra-se deprimida. Ele promete arranjar um companheiro para ela. E vai buscar ele próprio através da pesca, que resulta numa incursão submarina. Após muitos atropelos, consegue um peixe no orfanato, sendo o peixe entregue pelo próprio Rei Netuno, que havia julgado benevolamente os distúrbios causados por Félix no mundo submarino.

Se existe um exemplo que serve como uma luva para se trabalhar a crescente “domesticação” dos produtos hollywoodianos, em termos de forma e conteúdo, o personagem de Felix certamente é um dos mais óbvios. Aqui, não apenas se passa dos traços básicos dos desenhos silenciosos e em p&b para exuberantes cores e um cuidado com uma direção de arte realista dos ambientes de fundo impensáveis para os de antes. Mas, igualmente a personalidade do felino sofre profundas alterações. Se naqueles ele possuía uma argúcia muitas vezes sádica ou, ao menos espirituosa, em se livrar dos seus obstáculos ou conquistar seu objetivo, aqui ele se torna uma “bom moço” por completo, na linha do camundungo mais famoso da indústria de animação então, da rival Disney – Gillett, inclusive era dos quadros da empresa, onde dirigiu vários curtas (The Gorilla Mystery, Crianças na Floresta, Mickey’s Gala Premiere, O Super Lobo Mau etc) e dois deles ganhadores do prêmio da Academia (Flores e Árvores e Os Três Porquinhos) e bastante influentes e uma referência a Netuno prévia (O Rei Netuno). Não apenas. O Rei Neturno da animação do outro estúdio volta a aparecer e certamente deve ter passado desapercebido aos censores rigorosos do período, como naquele, a presença de uma sereia de seios expostos a constantemente atiçar o velho rei.  Desaparece também a anarquia surreal das invenções e transformações com o próprio corpo ou até mesmo com as interjeições gráficas que surgiam na imagem (exclamação, interrogação). Fica evidente que a busca de Félix por companhia para seu peixe é apenas pretexto para toda uma infinidade de antropormofizações das práticas sociais do reino aninal subaquático. A qualidade da animação dos estúdios Van Beuren se tornou tão saliente, que os curtas do estúdio passaram a ser distribuídos pela companhia que anteriormente distribuía os filmes Disney – esses passam a sê-lo pela United Artists. Pat Sullivan Cartoons/Van Beuren Studios para RKO Radio Pictures. 7 minutos e 9 segundos.

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