Filme do Dia: A Dama de Ferro (2011), Phyllida Lloyd

 




A Dama de Ferro (The Iron Lady, Reino Unido/França, 2011). Direção: Phyllida Lloyd. Rot. Original: Abi Morgan. Fotografia: Elliot Davis. Música: Thomas Newman. Montagem: Justin Wright. Dir. de arte: Simon Elliott, Bill Crutcher & Nick Dent. Cenografia: Annie Gilhooly. Figurinos: Consolata Boyle. Com: Meryl Streep, Jim Broadbent, Susan Brown, Alice da Cunha, Phoebe Waller-Bridge, Iain Glenn, Alexandra Roach, Olivia Colman, Harry Lloyd.

Margaret Roberts (Colman), a filha de um verdureiro cujo maior orgulho era se dizer formada em Oxford, torna-se a primeira mulher a fazer parte do parlamento britânico. A liderança dessa mulher de fibra, agora chamada Margaret Thatcher (Streep) faz com que se torne uma eloquente porta-voz para uma época de conservadorismo político e econômico, tornando-se a primeira mulher a se tornar primeira ministra na Inglaterra, em 1979, sendo que suas medidas de ajuste fiscal a transformaram em eminência parda para as classes trabalhadoras. Ela sobrevive a um atentado com o marido Denis (Broadbent), e sai fortalecida da Guerra das Malvinas, em 1982, ao acender uma onda de patriotismo no país. Porém, o mesmo temperamento inflexível e enérgico que lhe trouxe a alcunha de Dama de Ferro, fez com que fosse guindada do poder, logo após o desmantelamento do comunismo no  bloco europeu. O tempo também pagaria o seu preço, sofrendo de Alzheimer e se dirigindo constantemente ao marido já falecido.

O filme paga o preço de não ser mais que um veículo para a habitual mimetização de uma atriz renomada, vivendo uma personalidade igualmente célebre do século passado. E é justamente de canibalizar interesses que transcendem o universo do cinema (em seu filme anterior, o musical Mamma Mia!, as canções do Abba e mais uma vez Streep), que parece se sustentar a carreira bissexta de Lloyd no cinema. O resultado é decepcionantemente trivial, e como toda trivialidade a partir de uma personalidade pública contemporânea cuja sustenção não parece ir além  da curiosidade sensacionalista que desperta, o filme inevitavelmente parece quase provocar um desejo de assistir a algum documentário sobre sua retratada. De fato, aqui as cenas de bastidores não vão além de reforçar a banalidade que não seria diferente em se tratando de qualquer anônimo, como não existe qualquer tentativa de reflexão sobre o que representou o mais longo mandato de um primeiro ministro na história inglesa. E tudo, efetivamente, servindo como pretexto para que Streep faça uso de expressões associadas a seu modelo de modo quase tão caricato quanto é retratada em sua senilidade da idade avançada. Não falta sequer o pífio psicologismo rasteiro que “explica” a rigidez da personagem a partir da frieza com que os pais recebem a notícia de que a filha havia sido recém-aprovada na seletiva Oxford. Thatcher já havia sido retratada em telefilme do final da década de 1990. Encontra-se na cola de inúmeras cinebiografias de personalidades políticas recentes como Nixon ou A Rainha, e talvez desnecessário dizer que menos bem sucedido que seus antecessores, ao sequer forjar uma teia dramática para sua personagem, preferindo a facilidade da narrativa entrecortada a partir do pretexto de semi-demência de sua protagonista. Parece bastante representativo de um grau zero de pretensões artísticas ou reflexivas de certo cinema produzido apenas para se beneficiar por osmose do pretenso apelo de seus retratados. Film4/UK Film Council/Canal+/CinéCinéma/Goldcrest Pictures/DJ Films/Pathé para Pathé Int. 105 minutos.

 

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