O Dicionário Biográfico de Cinema#38: Joe Eszterhas

Joe Eszterhas interview (2000) - YouTube

Joe Eszterhas
n. Gaskanydoroszlo, Hungria, 1944

O Sr. Eszterhas é um daqueles profissionais que leu uma versão anterior desse livro e se sentiu desapontado. Reclamou em uma revista  que me pediu para escrever sobre ele, que eu via os escritos de Ben Hecht como essencialmente subordinados às façanhas de Von Sternberrg, Preminger, e outros. "Não posso acreditar que seja sério", escreveu Eszterhas. "Sternberg? Preminger?". E sentiu-se ofendido - com justiça - por ter omitido roteiristas como Paddy Chayefsky, Ernest Lehman, Robert Riskin e William Goldman.


Bem, preenchi algumas dessas lacunas, então devo dizer algumas palavras sobre o Sr. Eszterhas. Almoçamos juntos e o achei grandemente divertido. Ele é grande, hirsuto, florido, reflexivo, anedótico e auto-depreciativo (admitiu que havia auxiliado o socorro a um roteiro por tão pouco quanto 600 mil dólares a semana) e alguém que tornou a família Korda jovem novamente. 

Se ao menos o trabalho dele fosse tão divertido! Após chegar a esse país criança, e graduar-se no estado de Ohio, tornou-se jornalista do Plain Dealer de Cleveland. Foi arrojado e controvertido: numa história, entrevistou crianças sem a permissão dos pais, e o texto acabou sofrendo uma ação de privacidade. Fez parte da Rolling Stone e escreveu dois livros: Thirteen Seconds: Confrontation at Kent State (1970) e Charley Simpson's Apocalipse (1974), que ganhou o National Book Award. 

Ao final dos anos 70, começou a escrever roteiros: F.I.S.T. (78, Norman Jewinson), foi sua estreia, e apresentou uma tentativa valorosa de lidar com material difícil. Porém, com a passagem do tempo, e Eszterhas se tornando mais bem sucedido, sua consciência da "classe trabalhadora" foi expurgada - especialmente em Flashdance (83, Adrian Lyne), caiu em um padrão de implausibilidade, auto-repetição e um interesse quase inconsciente em formas de traição: Jagged Edge [O Fio da Suspeita] (85, Richard Marquand), um suspense bem realizado; Hearts of Fire [Corações de Fogo] (87, Marquand); Pals [Companheiros] (87, Lou Antonio); Big Shots (87, Robert Mandel); o singularmente inacreditável  Betrayed [Atraiçoados]; Checking Out [Marcando em Cima]  (89, David Leland); e o tocante, mesmo que previsível, Music Box [Muito Mais que um Crime]  (89, Costa-Gravas).

Eszterhas é uma combinação útil de técnicas antiquadas e chocantes valores modernos, como testemunha Basic Instinct [Instinto Selvagem] (92, Paul Verhoeven). Nada nesse filme é tão chocante quanto os honorários de 3 milhões de seu roteirista, mas Instinto Selvagem, no título, marketing e sensação espúria é um filme americano bastante característico de seu momento, ao mesmo tempo desagradável e irrelevante. Quando a produção estava sendo filmada, Eszterhas fez espetáculo de si ao descobrir que seu roteiro podia ser hostil à comunidade gay. Pediu aos produtores a permissão de reescrevê-lo, e não poderiam acreditar que ele falasse sério. 

Eu acreditei. Eszterhas tem a perigosa sinceridade de um rinoceronte, aliada à astúcia de uma raposa. Tudo isso foi demasiado evidente em sua obra mais agradável: as amplamente distribuídas cópias fax das cartas trocadas entre ele e Michael Ovitz, quando Eszterhas decidiu abandonar a CAA. A narrativa de Joe  de como Ovitz havia respondido é um retrato tão conciso do idealismo e traição em Hollywood  quanto se poderia encontrar. 

Também escreveu o roteiro para Sliver [Invasão de Privacidade] (93, Phillip Noyce); Jade (95, Wiliam Friedkin); Telliing Lies in America [No Embalo da América] (97, Guy Ferland); An Alan Smithee Film: Burn Hollywood Burn [Hollywood - Muito Além das Câmeras] (99, Arthur Hiller). E você não pode fazer cinco filmes tão ruins sem escutar o balão se esvaziando - e se preocupar com seu cheiro. Para completar, Joe divorciou-se de sua esposa e casou com outra no caminha da estagnação. Foi o suficiente para encorajá-lo a pensar que sua breve notoriedade havia sido somente um espasmo de uma crise de meia-idade. Urgia transformá-la em Arte, e seu primeiro e definidor romance, American Rhapsody (00)

Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 3069-76. 

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