O Dicionário Biográfico de Cinema#35: Christopher Guest

Christopher Guest n. Nova York, 1948

1989: The Big Picture [A Grande Comédia]. 1991: Morton & Hayes (TV). 1993: Attack of the 50 Ft. Woman [15 Metros de Mulher] (TV). 1996: Waiting for Guffman [Esperando o Sr. Guffman]. 1998: Almost Heroes [Os Quase Heróis]. 1999: D.O.A. 2000: Best in Show [O Melhor do Show]. 2003: A Mighty Wind [Os Grandes Músicos]. 2006: For Your Consideration [Por Trás das Câmeras].

Essa curiosa frase, "convidado especial" (*) começou a tomar proporções universais de aplicação, inteiramente bem vindas em um mundo que passou a se levar muito a sério. Portanto a rubrica "convidado especial" passou a ser um sinal em um filme ou programa de TV que alguém é bem pago - ou nada de todo? Significa que somente foi um dos visitantes que não saíam. Ou - e isso é verdadeiramente promissor -  o termo se refere ao núcleo interno de fantasmas do mundo das celebridades, o anti-estado da fama do qual a gentil criatura da paródia se tornou de longe mais real que os objetos originais da sátira? De qualquer forma isso é pensado como uma "aparição especial" (**) - e um convidado muito especial, igualmente.

Não é a última coisa a se observar sobre sua carreira o seu desavergonhado e nada neurótico ar de pouco caso. Afinal, por que alguém deveria saber do que deseja antes da meia-idade? Por que o mero fato de ter sido casado com Jamie Lee Curtis por vinte anos significa que deve pô-la em seus filmes? Talvez os prazeres do casamento dependam de não se trabalhar juntos. Talvez seja somente um casamento especial (***).

Entretanto, Christopher Guest escreveu algo e também atuou em algo dos idos dos anos 70, e foi um dos intérpretes americanos que não levou em conta o anti-palavreado, digamos, de Mont Phyton, mas de uma forma que nem mesmo o globo da BBC girando silenciosamente poderia convencê-lo de que a programação normal  resumiria. O primeiro grande destaque do rosto empoado de Guest foi a ficção documental  This is Spinal Tap [Isto é Spinal Tap] (84, Rob Reiner), onde foi "Nigel Tufnel" (verdadeiramente somente com um l?) numa banda de rock que passou da fabricação absoluta a álbuns bem sucedidos e excursões, e parecia mais provável que muitas bandas de carreiras mais ruidosas.

Mas, antes disso, Guest havia escrito para Lily Tomlyn e para o Saturday Night Live e ele tem sido o roteirista da maior parte de seus filmes, frequentemente com Eugene Levy. Como ator, Guest possui créditos que são uma tortura à memória - estava ele realmente no filme ou sua própria filmografia é uma farsa? Você acreditaria que ele está em The Hospital [Hospital] (71, Arthur Hiller); The Hot Rock [Os Quatro Picaretas] (72, Peter Yates); Death Wish [Desejo de Matar] (74, Michael Winner); The Fortune [O Golpe do Baú] (75, Mike Nichols) - como amante? Ele foi Jeb Magruder em Blind Ambition (79, George Schaefer) na TV? Bem, alguém deve ter sido. E assim por diante, incluindo o "diretor de TV" em Haywire (80, Michael Tuchner) e Charlie Ford em The Long Riders [Cavalgada dos Proscritos] (80, Walter Hill) - porque, sim, com seu irmão Nicholas! É o primeiro cliente em Little Shop of Horrors [A Pequena Loja dos Horrores] (86, Frank Oz); Bob em Beyond Therapy [Além da Terapia]  (87, Robert Altman); e o Conde Tyrone Rugen em The Princess Bride [A Princesa Prometida] (87, Reiner - você poderia ter adivinhado essa). E sua cara está tão rígida quanto as evidências médicas em A Few Good Men [Questão de Honra] (92, Reiner).

Gradualmente, esta vida agitada esclareceu o próprio destino de Guest. A Grande Comédia é uma sátira bastante modesta, quase terna, sobre Hollywood - possui o ar de um programa de jardinagem da BBC e, no geral, Guest põe a câmera e faz o que frequentemente se conhece como direção com o mínimo de astúcia ou planejamento possível. Morton & Hayes foi um programa de TV de vida curta, liderado por Rob Reiner, a respeito de um ato cômico dos velhos tempos em duas partes que nunca existiu. 15 Metros de Mulher. Penso que alguns títulos dizem tudo. Esperando o Sr. Guffman é seu ponto de virada (se você acredita em pontos de virada), sobre um musical que celebra o sesquicentenário de uma pequena e insignificante cidade no Missouri. Os Quase Heróis foi um desastre completo - sobre uma expedição que coincidiu com a de Lewis e Clark. E não sei o que O Melhor do Show é.

E O Melhor do Show é um caso simplificado de paraíso. Você pode tanto captá-lo ou não. Mas se o fizer, poderá ter Michael McKean, Bob Balaban, Catherine O'Hara, Parker Posey, Eugene Levy, C. Guest e os outros para sempre.

Os Grandes Músicos (sobre música folk) foi, penso, um pouco decepcionante. Mas isso não importa verdadeiramente. Quando a solidão da terra for arruinada apenas por cães vadios, O Melhor do Show será lembrado na fogueira do campo a se apagar.

Texto: Thomson, David. The Biographical Dictionaary of Film. Londres: Knopf, 2010, pp. 4096-103.

N. do T.: (*), (**), (***) nas três ocasiões se faz trocadilho entre o sobrenome do ator (Guest) e o termo vinculado aos créditos no elenco como guest appearence e posteriormente com o próprio casamento do ator.