Filme do Dia: A Fuga de Tarzan (1936), Richard Thorpe
A
Fuga de Tarzan (Tarzan Escapes, EUA,
1936). Direção: Richard Thorpe. Rot. Original: Cyril Hume, Jack Cummings &
Edwin H. Knopf, a partir dos personagens de Edgar Rice Borroughs. Fotografia:
Leonard Smith. Música: William Axt. Montagem: W. Donn Hayes & Frank
Lawrence. Dir. de arte: Elmer Sheeley. Cenografia: Edwin B. Willis. Com:
Johnny Weissmuller, Maurren O´Sullivan, John Buckler, Benita Hume, William
Henry, Herbert Mundin, E.E. Clive, Darby Jones, Cheeta.
Rita (Hume) e Eric (Henry) chegam à africa atrás da prima
Jane Parker (O`Sullivan), pois esta recebeu uma fortuna de um tio milionário.
Eles partem em uma expedição comandada pelo Capitão Fry (Buckler) e seus
ajudantes negros, liderados por Bomba (Jones). Após muitas peripécias e a morte
de vários nativos, eles travam contato com Tarzan (Weissmuler) e Jane. Jane
concorda em retornar com eles para ajeitar a documentação que beneficiará os
primos, porém Fry cria uma armadilha para apriosionar e vender todos os brancos
para o líder de uma tribo selvagem. O próprio Fry também se torna prisioneiro.
Tarzan, antes de se unir ao grupo, consegue fugir com a ajuda de dois elefantes
e de Cheetah e salva a todos. Quando todos já se encontram aliviados, ele pede
que Fry se afaste da expedição. Esse falece ao cair no pântano. Rita, comovida
com o amor de Tarzan e Jane, afirma que essa não precisa mais voltar com eles,
pois seu plano secreto era de levá-la de volta à civilização, pedindo apenas
sua assinatura.
Terceiro da longeva série de filmes que Weissmuller,
ex-atleta olímpico e o mais célebre Tarzan da história do cinema, realizou e
que findaria somente em 1948. Como seus equivalentes se trata de um compósito
mal articulado de clichês que contam com a expectativa de uma grande dose de
fascínio tanto pela paisagem exótica quanto pelo próprio erotismo. Com relação
a “ambientação” africana o filme
articula de modo bastante canhestro (ao menos aos olhos de hoje!) imagens
filmadas em estúdio e cenas documentais filmadas na África, sobretudo em seus
momentos iniciais, através de raccords
de olhar que não conseguem diminuir nem um pouco a distinção até na granulação
da imagem. No mais os habituais momentos de suspense que envolvem o
enfrentamento dos personagens com as bestas selvagens, no caso aqui uma leoa e
um crocodilo. Já no que diz respeito ao erotismo, o filme consegue, de certo
modo, tripudiar com o severo Código Hays de então ao apresentar uma cena do
casal deitado lado a lado em sua cabana na selva e não em “camas separadas” –
ou árvores separadas como seria o equivalente aqui - como era previsto então.
Nesse quesito, destaque para a cena em que uma câmera subjetiva faz às vezes de
Tarzan indo de encontro a Jane que se encontra deitada esperando-o para o ato
de amor. Seria redundante mencionar a visão profundamente etnocêntrica e
colonial em filmes que tem como herói justamente um homem branco que consegue
mexer com toda a selva com seu poderoso grito, mas aqui ela se expõe
particularmente nos negros que apanham de chicote ou caem dos despenhadeiros,
ainda que presumivelmente tivessem bem mais habilidade em lidar com o próprio
ambiente geográfico do que os visitantes brancos, provocando no máximo um esgar
de horror da mocinha ou o comentário cínico de que por pouco não se perdera
parte das munições, por parte do vilão. Existe evidentemente um contraponto
cômico manifesto aqui seja no personagem de um efeminado Rawlins, que se
oferece em morte pseudo-auto-sacrificial, como era comum aos tipos então ou em
Cheeta, de longeva carreira no cinema (sua última participação foi em Dr. Dolittle, de 1967) e ainda hoje
vivo, que possui seu momento solo de enfrentamento com uma zebra. Diversos
diretores se envolveram no projeto em variados momentos dos dois anos de sua
produção, como John Farrow e William Wellman, e também houve mudanças na equipe
técnica e elenco. O caráter “selvagem” do herói é bastante limitado já que além
de branco se trata de um verdadeiro gentleman,
o maior que Rawlins conheceu, “com ou sem roupas” e o modo como une suavemente
seu rosto ao da amada Jane realmente afasta para longe qualquer pretensão de
realismo maior e o aproxima de representações idealizadas, e aqui evidentemente
menos eruditas, do imaginário romântico sobre os “selvagens”. O título parece
um tanto quanto deslocado, mesmo buscando enfatizar uma das ações pretensamente
mais elaboradas, em termos espetaculares do filme – a dos elefantes libertando
o herói - já que pouco diz com relação à narrativa como um todo. MGM. 89
minutos.
Postado originalmente em 05/07/2015
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