Filme do Dia: Últimas Conversas (2015), Eduardo Coutinho

Últimas Conversas

Últimas Conversas (Brasil, 2015). Direção e Rot. Original: Eduardo Coutinho. Montagem: Jordana Berg.

Uma série de entrevistas realizadas com estudantes que estão concluindo o nível secundário de estudos é o tema desse que é um documentário póstumo de Coutinho, finalizado por João Moreira Salles. Fazendo uso de dispositivo semelhante ao presente em seus últimos filmes, há uma câmera fixa que flagra depoimentos de pessoas que falam para Coutinho sobre questões envolvendo seus desejos mais prementes, a maior parte relacionados visceralmente com as figuras parentais. Como se trata de estudantes de escolas públicas há um perfil que sublinha em geral um contato mais próximo com a mãe, a ausência ou completo desconhecimento da figura paterna.  Mesclando lágrimas e histrionismo, às vezes nos mesmos depoimentos, Coutinho ouve sonhos, desabafos, incertezas e também silêncios – no caso de um dos depoentes, existe um visível constrangimento dele próprio com as lacunas de seu discurso.  A moldura onde os depoentes se apresentam para as lentes e a presença de Coutinho, de quem apenas vislumbramos recortes de seu corpo quando se despede de seus entrevistados ou toca em algo que foi citado por eles, duas vezes celulares, é uma sala de aula de perfil humilde, provavelmente parte da escola ou escolas que foram pesquisadas para a produção. Antes das próprias entrevistas, ouvimos o depoimento de Coutinho, atormentado com o que ele acredita ser a impossibilidade de conseguir extrair algo de interessante de adolescentes, público que nunca esteve presente em seus documentários anteriores. Depois, observamos uma garotinha de seis anos, e Coutinho se maldizer mais uma vez de não ter feito as entrevistas com crianças.  Trata-se de um contraponto em mais de um sentido. Não apenas por sua faixa etária, como pela cor de sua pele e ser filha de dois médicos, ter duas babás em casa e uma série de outros privilégios que se encontram distantes dos anteriormente ouvidos. Embora o que certamente Coutinho enfatizaria, e o faz de fato, é a espontaneidade das respostas. Videofilmes. 85 minutos.


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