Filme do Dia: Conflito dos Sexos (1929), Gustav Machatý
Conflito dos Sexos (Erotikon,
Tchecoslováquia, 1929). Direção: Gustav Machatý. Rot. Original: Machatý, a
partir do argumento dele próprio e de Vitezslav Nezval. Fotografia: Václav
Vich. Montagem: E.B. White. Dir. de arte: Alexander Hammid, J. Machon &
Julius von Borsody. Com: Ita Rina, Karl Schleichert, Olaf Fjord, Theodor Pistek, Charlotte Susa,
Luigi Serventi, Ladislav H. Struna, Milka Balek-Brodská.
Andrea (Rina) é uma garota ingênua que vive com o
humilde pai (Schleichert) ferroviário. Numa noite tempestuosa, o pai hospeda o
jovem George Sydney (Fjord). Uma atração imediata acontece entre os dois.
Andrea rapidamente é seduzida, mas George parte e não lhe dá apoio. Ela,
grávida, perde a criança e a honra diante do pai, que havia se indisposto com
amigos, por conta dela. Vagando errante, Andrea se envolve com um bêbado que,
quando ameaça ser violentada por ele, é socorrida por Jean (Serventi), tornando-se
seu companheiro. Já casados, Andrea ocasionalmente volta a encontrar, com o
marido, George. O desejo emerge como antes. O marido percebe tudo, incomodado.
George finda sua relação com a adúltera Gilda (Susa), porém essa deixou
vestígios que levam o marido traído, Hilbert (Pistek), a assassina-lo. Andrea
retorna então ao marido, que a aceita de volta de bom grado.
Ousado em sua representação do desejo sexual
feminino, não deixa de aparentemente, ao mesmo tempo, conformar-se a uma visão não muito distante da típica da
época sobre a mulher, sempre carente de uma ausência masculina, ao ponto da
própria histeria patológica. Dito Isso, no entanto, a ousadia felizmente se
sobropõe aos laivos oblíquos de conservantismo, e o filme desconstrói tal premissa inicial, partindo de
uma estrutura que parece namorar com a psicanálise, com pai e companheiro algo
que sinalizando para a bonomia do mesmo homem que ressurge como o destino
perante Édipo e ela desmentindo os “votos de confiança” de ambos, traída pela
desejo. Porém, em caminho inverso ao do esperado cinismo, o filme aposta suas
fichas em um amour fou capaz de
transcender com casamentos e casos amorosos infiéis, com o protagonista
masculino também demonstrando intenso sofrimento pela situação de encontrar
Andrea casada. E, ao final das contas,
a cirando do desejo imperfeito deixa suas marcas em homens e mulheres com a
mesma intensidade. E, nessa engrenagem, não tão previsível quanto a das rodas
do trem que leva o velho novo casal a Paris,
antes pelo contrário, Andrea é quem consegue viver os dois mundos, da
paixão desenfreada e do amor, contando com a compreensão do marido e auxiliada
pelas mãos do assassino que se aparenta com o pensador Walter Benjamin. Trabalhado em alguns planos que se afastam
do rotineiro e conseguem traduzir o pathos da situação melhor que o próprio
desempenho dos atores, como é o caso da
nervosa câmera para o momento de suspense e premonição de morte que segue a
chegada do marido traído na residência de George. O sueco Mauritz Stiller
realizou um filme com idêntico título original, em 1920. Já Machatý é hoje mais
lembrado pelo ainda mais polêmico (então, bem entedido) Êxtase, que trazia a nudez da futura estrela hollywoodiana Hedy
Lamarr. Infelizlmente, cópia não sonorizada. Gem-Film para Slavia Film. 85
minutos.
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