Filme do Dia: Pro Dia Nascer Feliz (2006), João Jardim
Pro Dia Nascer Feliz (Brasil, 2006). Direção, Rot. Original e Montagem: João Jardim. Fotografia: Gustavo Hadba. Música: Dado Villa-Lobos.
Documentário que traça um panorama sobre as adversidades vividas por professores e estudantes em municípios de três estados brasileiros: Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. No Nordeste se destaca a precariedade e a poesia (o foco é no mais pobre dos municípios de todo o país), focando a precariedade das escolas sem bens básicos como água para descarga ou ônibus com assentos, além da sensibilidade incomum de uma jovem leitora e escritora de poesia. No Rio, destaca-se sobretudo uma escola da região metropolitana em que os estudantes possuem trânsito fácil junto à marginalidade, assim como atividades culturais que procuram demover os jovens da ociosidade nos finais de semana, aproximando-se de um garoto que possui problemas de disciplina e de uma jovem que somente consegue expressar suas angústias pessoais através da poesia, algo que não encontrará mais espaço quando a equipe a revê tempos depois, agora restrita somente ao universo do trabalho. Em São Paulo, por fim, acompanha-se a experiência de uma escola-modelo da periferia, as angústias de uma jovem professora sem estímulo para prosseguir na carreira, as tristezas de duas jovens de um colégio da elite com relação a sua interação com o restante da sociedade e seus próprios temores quanto ao futuro e si próprias. E a banalização da violência, que chega a provocar mortes nas escolas por motivos fúteis (sendo que a seca declaração de uma assassina que voltará as ruas em apenas três anos por ser de menor acaba, ainda que involuntariamente, acirrando ainda mais a discussão sobre uma redução da maioridade penal, uma das questões-chaves nas discussões sobre criminalidade no Brasil). Habitualmente com bom ritmo, desenvolto trabalho de câmera e sem muita precisão quanto ao seu foco narrativo, o filme pode evocar, em certos momentos, documentários pioneiros de investigação social que deram voz aos seus retratados, como Opinião Pública (1967), de Jabor. Deve-se destacar que alguns desses que são abordados pelo projeto, acabam virando verdadeiros “personagens”, aproveitando-se inclusive dos mesmos recursos de identificação de seus similares ficcionais, algo que fica ressaltado nas figuras carismáticas que acompanha mais de perto, sendo que tal proximidade (e correspondente maior complexidade psicológica de seus personagens) vai se adensando cada vez mais do Nordeste até chegar em São Paulo. Ao contrário de Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles, tal visão “de dentro” não procura criar um painel mais fechado das relações sociais e políticas dos grupos envolvidos e tampouco se apela para a fala de especialistas na área. O resultado final, fluente ainda que irregular, pulsa com uma intensidade bem maior que a produção documental mediana contemporânea. Ravina Filmes/FogoAzul Filmes. 88 minutos.
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