Filme do Dia: O Mercador das Quatro Estações (1971), Rainer Werner Fassbinder
O Mercador das Quatro Estações (Al. Ocidental, 1971). Direção e Rot. Original: Rainer Werner Fassbinder. Fotografia: Dietrich Lohmann. Montagem: Thea Eymész. Dir. de arte: Kurt Raab. Figurinos: Kurt Raab & Utal Wilhelm. Com: Hans Hirschmüller, Irm Hermann, Hanna Schygulla, Andrea Schober, Gusti Kreissl, Klaus Löwitsch, Ingrid Caven, Kurt Raab, Peter Chatel, Lilo Pempeit, El Hedi ben Salem, Rainer Werner Fassbinder, Harry Baer.
Hans Epp (Hirschmüller), marcado pela desqualificação que lhe pesou, principalmente por conta da mãe (Kreissl). Vendedor de frutas, para a vergonha da mãe, alcoolatra e casado com uma mulher que agride, Irmgard (Hermann) e uma filha que não presta atenção, Renate (Schober), Hans possui a chance de ascender financeiramente após sofrer um mal que lhe compromete o coração e exige que abandone o álcool. Ele reencontra um ex-amigo e combatente que lhe salvara a vida na época da Legião Estrangeira, Harry (Löwitsch) e o contrata para trabalhar, após descobrir que o antigo vendedor o enganara. Irmgard, no entanto, que já fizera sexo com Harry, e que sabe que Hans investiga seus vendedores, faz com que ele trapaceie com o marido, para supostamente lucrarem com o ganho. Hans descobre e Harry é demitido, não sem antes estapear Irmgard. Após o crescente sucesso nos negócios, Hans é finalmente aceito pela mãe, de quem somente a irmã, Anna (Schygulla), punira sempre por ele. Porém, quanto mais aceito é, mais deprimido e sem razão de viver Hans se sente, reunindo, por fim, toda a família e amigos próximos em um bar e bebendo até a morte. Irmgard convidara Harry então para se tornar seu esposo e um novo pai para Renate.
Ao não fazer uso da identificação com o protagonista de forma tão abertamente indiscriminada quanto o mais conhecido O Medo Devora a Alma, o filme se torna ainda mais seco ao retratar o drama de um dos típicos anti-heróis fassbinderianos, voltados indefectivelmente para a auto-destruição, por conta da herança de relações familiares perversas e hipócritas. Quem põe o dedo na ferida e faz às vezes de portadora da má consciência familiar é sua irmã, interpretada por uma Schygulla de máscara facial quase tão impassível quanto algumas das “superstars” de Warhol. Um retrato da secura com que tudo é narrado, longe de desapaixonadamente, no entanto, pode ser melhor exemplificado na cena final, em que Irm propõe o seu casamento com o ex-amante diante da filha de forma quase caricaturalmente calculada. Se a estrutura estilístico-dramática do filme se aproxima de um certo distanciamento emocional diante do que é narrado, o filme acaba provocando um efeito quase inverso, de sublinhar a oposição crua entre o desejo individual e as instituições sociais como a família, reprodutoras de um ethos pouco sensível às sensibilidades e idiossincrasias pessoais. Aqui, ao contrário do mais dubiamente otimista O Medo Devora a Alma, o fim não poderia resultar em outro que a própria morte. Como no mais abertamente reprodutor – ainda que de forma algo enviesada – de tiques melodramáticos filme posterior, há referências a um dos filmes de Sirk mais conhecidos (Palavras ao Vento), na figura do próprio protagonista inseguro e desconsiderado pela família. Tango Film para Filmverlag der Autoren. 88 minutos.
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