Filme do Dia: Playtime (1967), Jacques Tati
Playtime (Playtime, França, 1967). Direção:
Jacques Tati. Rot. Original: Art Buchwald, Jacques Lagrange & Jacques Tati.
Fotografia: Jean Badal & Andréas Winding. Música: Francis Lemarque.
Montagem: Gérard Pollicand. Dir. de arte: Eugène Roman. Figurinos: Jacques
Cottin. Com: Jacques Tati, Bárbara Dennek, Rita Maiden, France Rumilly, Valérie
Camille, Érika Dentzler, Nicole Ray, Billy Kearns.
Sr. Hulot
(Tati), busca um funcionário americano, mas a arquitetura ultra-moderna do escritório
onde o mesmo trabalha acaba prejudicando o encontro. Desavisadamente, ele acompanha
um grupo de turistas americanos por Paris. Boa parte dos turistas se dirige a
um restaurante, recém-aberto e ainda com uma série de detalhes a complementar.
Na manhã seguinte o grupo de turistas retorna a seu ônibus, enquanto Hulot
continua seu cotidiano.
Primeiro
filme realizado por Tati desde seu clássico Meu
Tio (1958), insiste na sua sátira ao
mundo moderno. Enquanto no filme anterior, o objeto de seu riso era uma família
de classe média que adotava uma postura moderna, copiando o estilo de vida
americano, aqui não poderia ser mais explícito o seu deboche com os valores
americanos ou com os próprios americanos. Nesse sentido, observa-se desde
franceses reclamando que não entendem o que quer dizer um anúncio numa loja ou
um funcionário que não consegue mobilizar a alta tecnologia a sua disposição,
pois tanto o anúncio como as instruções
da máquina encontram-se em inglês. No mesmo sentido, os turistas americanos são
o protótipo do ridículo, seja na dificuldade de conseguir tirar fotos de uma
Paris que não seja a mera cópia do estilo americano, seja na dança
propositalmente exagerada de origem igualmente americana. O resultado, embora
desigual e marcado por uma visão conservadora de mundo, torna-se francamente
hilário na mais longa das seqüências, centrada no restaurante sofisticado
recém-aberto. Já outras seqüências, como
a do Sr. Hulot buscando encontrar o funcionário americano ou apreciando a
modernidade de um apartamento, onde todos os transeuntes observam o que se
passa em seu interior são bem menos interessantes. Uma das proezas técnicas do
filme é, apesar de ter sido realizado em 70 mm, utilizar sem perda de foco
tanto a amplitude horizontal tradicional do Cinemascope como a profundidade de
campo para construir seus quadros repletos de personagens desenvolvendo várias
ações simultaneamente. Nesse sentido, Tati abdica quase completamente do
diálogo como força expressiva e centra sua atenção na movimentação corporal dos
personagens e no apelo visual de suas composições de cena coletivas. As
vidraças e portas de vidro, símbolo da arquitetura moderna ridicularizada pelo
cineasta, embora possuam o charme de uma estética da “transparência” e da
assepsia soam completamente deslocadas no ambiente doméstico ou motivo para
tornar imperceptível a voz do outro com que se busca interagir. Em certo
momento, tornam-se símbolos de status e gravidade, como quando o porteiro
improvisa a porta do restaurante, recentemente estilhaçada, não por acaso pelo
próprio Hulot, apenas com sua maçaneta. Parodia com a personagem de Jean Seberg
em Acossado, com um homem vendendo o
mesmo Herald Tribune e foi aludido, por sua vez, em Um Convidado Bem Trapalhão (1968), de Blake Edwards. Prêmio Bodil
de melhor filme europeu. Possui várias versões, sendo a mais extensa e menos
conhecida mais de quarenta minutos mais longa. Jolly Film/Spectra Film. 113
minutos.
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