Filme do Dia: A Fonte da Donzela (1960), Ingmar Bergman
A Fonte da Donzela
(Jungfrukällan, Suécia, 1960).
Direção: Ingmar Bergman. Rot. Original: Ulla Isaksson. Fotografia: Sven
Nikvist. Música: Erik Nordgren. Montagem: Oscar Rosander. Dir. de arte: P.A.
Lundgren. Figurinos: Marik Vos-Lundh. Com: Max von Sydow, Birgitta Valberg,
Gunnel Lindblom, Birgitta Pettersson, Axel Düberg, Tor Isedal, Allan Edwall,
Ove Porath.
Karin
(Petterson) é praticamente o único motivo de prazer em uma rígida família
cristã medieval. Numa bela manhã ensolarada, Märeta (Valberg), sua mãe, tenta
justificar sua ausência da mesa ao café da manhã, mas não consegue dobrar a
disposição ferrenha do pai, Töre (Sydow), de que ela leve as velas para a
missa. Tanto o pai quanto a mãe cedem facilmente à doçura de Karin, a mãe
concordando com sua exigência de ir vestida em seda, vestimenta apropriada
apenas para o final de semana, e o pai que ela leve sua irmã de criação Ingeri
(Lindblom), grávida, que quase nunca sai
de casa. Logo no início da jornada Ingeri pede que ela retorne para casa, mas
Karin não lhe dá ouvidos. Karin afirma que só pretende ter filhos após casar, mas
Ingeri afirma que ela não terá opção se um dia for pega por um homem. Ingeri encontra-se
com um mendigo (Edwall), e esse lhe afirma que o futuro de Karin é sombrio.
Karin continua sua jornada sozinha e logo é abordada por três pastores, os
irmãos Herdsman, sendo um magro (Düberg) e um mudo (Isedal), e um garoto
(Porath). Eles a convidam para uma clareira, onde Karin compartilha suas
provisões com eles. Quando sente-se ameaçada procura fugir, mas é estuprada
pelos dois irmãos e posteriormente morta pelo mudo. Ingeri assiste tudo
aterrorizada. Os pastores roubam as vestes de Karin e se alojam na casa de
Töre. Lá o garoto acaba recusa qualquer tipo de comida, que associa
imediatamente com o cadáver de Karin. A noite se torna sombria, nada lembrando
o belo dia que fora. De madrugada,
Märeta acorda com os ruídos que os irmãos provocaram ao espancarem o garoto.
Logo eles tentam lhe vender o vestido de Karin, ainda sujo de sangue, e Märeta
conta tudo a Töre, que após uma sessão de auto-flagelo, massacra os três
camponeses. Parte com a esposa e os empregados da fazenda para encontrar o corpo da filha. Promete
construir uma igreja no mesmo local e quando retira, juntamente com a esposa, o
cadáver da filha, nasce uma fonte de água. Todos agradecem a Deus pela graça
concedida.
A narrativa
se desenvolve, sobretudo, a partir da tensão entre uma repressão sexual
puritana – que tem como sua exceção Ingeri, por sinal de má índole e o desejo em sua forma mais bestial, nas
figuras grotescas dos camponees – que possuem também sua exceção na figura do
garoto, que apenas assiste todos os atos. Da mesma forma ocorre uma tensão
entre a crença irrestrita em Deus e a falta de compreensão de seus atos, na
figura de Töre e uma grande sensação de culpa, seja por parte de Ingeri (que
sente-se culpada por sua morte porque realmente a desejara, algumas horas
antes), Töre (pelos crimes que cometeu para vingar a filha) ou Märeta (por ter
passado a odiar Deus, ao perceber que Karin – a única coisa que amava acima de
Deus – preferia o pai a ela). Bastante próximo de O Sétimo Selo, seja em termos de ambientação histórica, seja em
termos de questionamento da fé, o filme segue uma objetividade e uma concisão
que lembra o cinema de Bresson, também abdicando de trilha-sonora - a música
sendo utilizada apenas em termos diegéticos, no momento em que os camponeses
encontram Karin e um deles toca um instrumento semelhante a um berimbau.
Belissíma fotografia e iluminação em tons expressionistas. Svenskfilmindustri.
89 minutos.
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