Filme do Dia: Umberto D. (1952), Vittorio De Sica
Umberto D.
(Itália, 1952). Direção: Vittorio De Sica. Rot. Original: Cesare Zavattini.
Fotografia: G. R. Aldo. Música: Alessandro Cicognini. Montagem: Eraldo Da Roma.
Dir. de arte: Virgilio Marchi. Cenografia: Ferdinando Ruffo. Com: Carlo
Battisti, Maria Pia Casilio, Lina Gennari, Ileana Simova, Elena Rea, Memmo
Carotenuto, Alberto Albani Barbieri, De Silva.
Umberto Domenico (Battisti) é um aposentado que com o baixo valor pago
de aposentadoria não consegue se manter a contento na pensão de Antonia Belloni
(Gennari), que mesmo com todas as suas pretensões de dama da sociedade, aluga
quartos – inclusive o do próprio Umberto – para encontros furtivos. A única
aliada de Umberto em um mundo cada vez mais hostil é a jovem empregada Maria
(Casilio), grávida de um namorado militar, que não pretende assumir a
paternidade. Assim como seu fiel cão. Sentindo-se mal de saúde com angina,
Umberto força um internamento e quando retorna a pousada, descobre que seu
quarto está em reformas e que o cão desapareceu. Desesperado ele busca o
cachorro e finalmente o encontra no serviço público, após muita apreensão. Ele
decide partir da pousada e tenta várias vezes abandonar o cão e mesmo jogá-lo
contra o trem, mas permanece junto a ele.
Esse que provavelmente é o último projeto de De Sica que pode ser
vinculado ao Neorrealismo, curiosamente logo após sua primeira incursão em uma
narrativa abertamente fantasiosa que havia sido Milagre em Milão (1951). Aqui, De Sica vai mais longe que em qualquer
outro de seus filmes em sua aproximação de um cinema moderno. O minimalismo da
história, seu relativo distanciamento emocional e até mesmo um final em aberto
que não apresenta nenhuma solução, catarse que redimensiona a relação entre os
personagens e a forma como observam o mundo(como havia sido o caso de Ladrões de Bicicleta) se encontram
abertamente postos. Porém, mesmo o filme sendo o que mais se aproxima da
reinvindicação de Zavattini por uma história onde rigorosamente nada de
absolutamente especial ocorresse, acaba igualmente demonstrando ser um filme
que bebe na fonte do melodrama com bastante intensidade, seja na trilha sonora
que o acompanha do início ao final, seja em momentos de aberta
sentimentalidade, como o que o cão retorna ao dono, quando esse procura
despista-lo. O egoísmo humano, a hipocrisia associada à religião para conseguir
as benesses dos serviços assistenciais e um tema de evidente relevância social
– aqui a velhice abandonada - como a
infância abandonada o fora certa vez (em Vítimas da Tormenta) voltam a se fazer presente. De uma forma que remonta um certo
populismo na contraposição entre a antipatia da dona da pousada e seus
convidados pedantes e a simplicidade de espírito de seu protagonista, evocando
semelhante contraposição entre o garoto rico e o filho do protagonista de Ladrões de Bicicleta no restaurante.
Assim, como no plano da produção, a presença marcante de atores não
profissionais – esse seria o único filme de Battisti, que era um professor e
ainda viveria bastante tempo após o filme e transformaria a então amadora Maria
Pia Casilio em atriz – e as filmagens em locação. Dedicado ao pai do próprio de
De Sica, o filme seria mal recebido pela crítica, por motivos diversos, tanto na Itália quanto na França, selando o
redirecionamento da carreira do realizador. Foram utilizados dois cães, um
deles presente somente em duas cenas. Rizzoli Film/Produzione Films Vittorio De
Sica/Amato Film para Dear Film. 89 minutos.
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