Filme do Dia: A Besta da Caverna Assombrada (1959), Monte Hellman

A Besta da Caverna Assombrada (1959)

A Besta da Caverna Assombrada (Beast from Haunted Cave, EUA, 1959). Direção: Monte Hellman. Rot. Original: Charles B. Griffin, a partir de seu próprio argumento. Fotografia: Andrew M. Costikyan. Música: Alexander Laszlo.  Montagem: Anthony Carras. Com: Michael Forest, Sheila Noonan, Frank Wolff, Wally Campo, Richard Sinatra, Linné Ahlstrand, Chris Robinson, Kay Jennings.
A gangue comandada por Alexander Ward (Wolff) e sua secretária-namorada Gypsy (Noonan) decide aplicar um golpe e roubar lingotes de ouro de uma pequena reserva em Deadwood, Dakota do Sul. Eles procuram o treinador de esqui Gil Jackson (Forest) para camuflar sua ação, assim como a explosão de uma bomba na mina local para despistar a investigação policial. O que eles não contavam era com a Besta que vive na Caverna Assombrada e frequentemente sai a cata de vítimas.

O filme, evidente produto sensacionalista produzido por alguém próximo do mestre no setor, Roger Corman, inicia-se com uma bossa evocativa muito menos próxima dos filmes de ficção da década, por si só um gênero menor e de orçamentos usualmente modestos, que dos filmes-B da Monogram (a quem Godard presta seu tributo com Acossado, no mesmo ano), com sua trilha inquieta, urgente e pretensamente sensacionalista sendo replicada na  montagem apressada. Uma situação constrangedora não apenas para aparentemente o grupo mas igualmente o espectador – sobretudo mais de meio século após – é o da fuga desesperada de um dos membros da “expedição”, Byron,  da caseira indígena do local onde param, confundindo-a com o monstro que vira de relance na noite anterior, e que evidentemente foi pensada com o intuito humorístico. Em meio a tanta canastrice generalizada, que faz mesmo as modestas interpretações das ficções da década soarem magistrais e muitos diálogos toscos ainda existe espaço para clichês como o da garota que acena para a possibilidade de ficar com o “nature boy”, ao dizer que começa a entender o que ele sente pelo local. De longe o mais bizarro de tudo é uma trama de roubo, traição e perseguição entremeada com os episódicos encontros com a besta-fera do título, uma espécie de aranha gigante e insensível aos tiros, vivida pelo mesmo ator que faz uma ponta como barman. Que a Besta só tenha dado o ar de sua (des)graça no período em que os assaltantes por lá se encontram – pois Gil vive no meio da imensidão solitária e nevada há já bastante tempo – é um mistério.  Mesmo com tanta precariedade dessa produção modesta, ainda assim parece existir algum estilo, tal como se Hellman houvesse herdado algo do talento de Joseph H. Lewis de conseguir o quase impossível com os recursos e tempo disponível que tinha. O avião que os meliantes esperam para fugir parece ter sido reciclado por Polanski em seu Armadilha do Destino (1966), salpicando a trama de colorações algo absurdas e alguns toques de engenhosidade estilística – tais como o plano em que se observa de um ângulo inusitado a conversa de dois dos criminosos na soleira da porta, com essa desproporcionalmente grande a partir do interior da casa. Hellmann sustenta o quanto pôde apenas uma visão bastante parcial da besta, na melhor tradição dos filmes B – ainda que evidentemente longe de conseguir ao menos emular estratégia semelhante de uma produção de maior porte como Sangue de Pantera (1945), de Jacques Tourneur. Wolff teria uma sobrevida de maior reconhecimento artístico na Itália onde trabalharia, inclusive, pouco depois, no clássico O Bandido Giuliano (1962) e em vários westerns-spaghettis, suicidando-se em 1971. Gene Corman Prod. para Allied Artists Pictures. 75 minutos. 

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