Filme do Dia: Opfergang (1944), Veit Harlan


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Opfergang (Al.Ocidental, 1944). Direção: Veit Harlan. Rot. Adaptado: Alfred Braun, Veit Harlan, a partir do romance de Rudolf G. Biding. Fotografia: Bruno Mondi. Música: Hans-Otto Borgmann.  Montagem: Friderich Karl von Puttkamer. Dir. de arte: Karl Machus & Erich Zander. Com: Carl Raddatz, Kristina Söderbaum, Irene von Meyendorff, Franz Schafheitlin, Ernst Stahl-Nachbaur, Otto Tressler, Annemarie Steinsieck, Edgar Pauly.
Albrecth Froden (Raddatz), casado com Octavia (Meyendorff), acha que a família de sua esposa é demasiado intelectualizada e soturna, enquanto ele possui um ímpeto viril que se identifica muito mais com a vizinha, a sueca Äls (Söderbaum). Albrecht se aproxima cada vez mais de Äls. Octavia se torna consciente da paixão do marido e sofre com certa resignação. Toda a vitalidade de Äls esconde o fato que ela é paciente terminal e, em suas habituais galopadas com Albrecht, passam por uma área da cidade onde foi encontrado um surto de tifo. Ambos caem de cama e, enquanto enfermos, Albrecth observa Octavia se fazendo passar por ele para alegrar Äls, que morre pouco após. O casal, então, presta seu tributo a Äls, mantendo-se mais unido que nunca.
Ainda que com recursos de produção bem mais generosos que os disponíveis na contemporânea Itália, esse filme de Harlan, um dos cineastas mais requisitados do período nazista, é uma extravagância em cores que parece inferior até mesmo às comédias e dramas mais comezinhos do país vizinho. De fato, tanto o seu estilo visual se encontra muito aquém das produções hollywoodianas contemporâneas, mais parecendo se aproximar do que foi produzido após o cinema clássico, ou seja, fazendo um uso limitado das opções estilísticas presentes naquele, como sua história, de uma triviliadade infantil e kitsch, ressaltada pela trilha não menos extravagante, tampouco deixa de tocar de forma menos oblíqua nos valores ideológicos defendidos pelo nacional-socialismo. Söderbaum os representava como ninguém. No primeiro encontro inesperado dela com Albrecht, em um lago próximo a sua casa, ela se banha despida, numa valorização do culto ao corpo bastante conhecida pelos estetas nazistas. Isso se dá de forma quase mecânica, após Albrecht sair de uma discussão, no qual observa que sua família se encontra bastante fincada em valores demasiado literários, preferindo um sarau lítero-musical em plena manhã ensolarada de um sábado ao prazer que os esportes podem oferecer. Söderbaum e Albrecht, portanto, encarnam um ideal ariano que foge do decadentismo burguês. Porém, a figura de Octavia se encontra longe de ser menosprezada, demonstrando sua nobreza de sentimentos e amor pelo marido, ao aceitar, ainda que não sem uma grande dose de sofrimento, a sua paixão por Äls como uma fonte de felicidade e redescoberta da vida. Talvez a maior curiosidade seja que a morbidez que Albrecht observa com criticidade no momento do sarau, sintetizado num relógio que afirma que ainda irá marcar a hora final terá como correspondente não a sua esposa, inclusive vivida por uma atriz mais bela, elegante e mesmo de traços mais associados com o ideal ariano de beleza, mas justamente na figura vivida por Söderbaum, conhecida por ter uma sucessão de tipos de destino fatal semelhante, que bem poderia se assemelhar a uma versão feminina do galã do realismo poético francês, Jean Gabin e não passaria incólume à sátira pelo documentário O Mito da Eterna Beleza. Difícil fugir do lugar-comum de aplicar o termo escapista para a trivialidade do drama de triângulo amoroso, com risíveis excessos visuais, nos quais os amantes dividem o quadro da imagem, mesmo distantes, sobretudo quando se sabe a situação nada roséa pela qual passava o país justamente nesse momento. UFA para DFV.  98 minutos.

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