Filme do Dia: A Vida é Bela (1997), Roberto Benigni
A Vida é Bela (La Vita è bella, Itália, 1997). Direção:
Roberto Benigni, Rot. Original: Vincenzo
Cerami & Roberto Benigni.
Fotografia: Tonino Delli Colli. Música: Nicola Piovani. Montagem: Simona Paggi,
Dir. de Arte, cenografia e figurinos: Danilo Donati. Com: Roberto Benigni,
Nicoletta Braschi, Giustino Durano,
Sergio Bini Bustric, Marisa
Paredes, Horst Buchholz, Lidia Alfonsi,
Giorgio Cantarini, Amerigo Fontani, Pietro De Silva, Francesco Guzzo.
Guido Orefice (Benigni) é um homem atrapalhado que
tenta a sorte na Itália as vésperas de ser completamente dominada pelo
anti-semitismo. Jovial e despreocupado, ele encontra casualmente a jovem por
quem se apaixona, Dora (Braschi), que pula de uma janela para escapar de um ataque de abelhas. Vai trabalhar como garçom no
restaurante de um tio (Durano) economicamente bem situado. Lá faz amizade com
um hóspede, Dr. Lessing (Bucholz), que é obcecado por charadas, que ele ajuda a
decifrar. Porém, entre Guido e Dora se encontra, um influente e rico fascista. O anti-semitismo se agrava e,
no dia que será comemorado o noivado de Dora, Guido encontra o tio consternado
porque se deparara com o cavalo pintado de verde como “cavalo judeu”. No auge
da comemoração do noivado, depois de ouvir da própria Dora que pretende fugir
com ele, Guido aparece montado no cavalo verde para buscá-la. Refugiam-se na
casa que lhe fora cedida pelo tio. Lá casam e montam uma pequena livraria, onde
também trabalha o pequeno Giosué (Cantarini), filho do casal. Porém no dia que
irão comemorar o aniversário de Giosué, e que a mãe de Dora (Paredes) se mostra
disposta a aceitar o novo cunhado, elas são surpreendidas por uma casa vazia e
revirada. Levados pelos oficiais,
Giusué, Guido e seu tio são embarcados no trem para um campo de
concentração. De última hora, Dora resolve por sua livre e espontânea vontade
também embarcar. Lá ela segue com as mulheres, enquanto o tio de Guido é
separado dele e de Giosué. Apesar de sofrer atrozmente com a rotina do campo,
onde passa o dia carregando bigornas, Guido sempre prefere criar um mundo
fictício para Giosué, tomando a palavra na hora que um oficial alemão vem
apresentar as regras do campo e traduzindo tudo completamente diferente para a
diversão do garoto ou criando um sistema de pontuação em que após ganharem mil
pontos Giusué receberá um tanque como presente. Dora descobre que a ausência de
velhos e crianças no trabalho não significa nenhuma exceção humanista na ordem
militar, antes que eles serão mortos. Graças a sua teimosia de recusar o banho,
Giosué sobrevive as câmeras de gás, tornando-se a única criança judia a permanecer no campo. O tio de Guido, por
outro lado, não tem a mesma sorte. Quando participa de uma inspeção sanitária,
Guido percebe que quem a comanda é o Dr. Lessing. Sonhando a libertação através
de Lessing, Guido, que agora passa a trabalhar como garçom, mostra-se profundamente decepcionado quando
esse procura que ele decifre uma charada que lhe foi proposta. Vez por outra
Guido também não esquece de sua princesa, como chama Dora, seja invadimdo o
sistema de som do campo e proclamando, junto com Giosué, seu amor a ela, seja
pondo a ópera de Offenbach para que ela escute. Também faz com que Giusoé se
entranhe entre as crianças nazistas, para que possa se alimentar e não mais ter
que se esconder. Quando a guerra foi decretada finda, Guido sabe que os alemães
pretendem se livrar de todas as provas da barbárie dos campos e esconde Giusoé
em um móvel, afirmando que ele só deve sair de lá quando não houver mais nenhum
ruído, enquanto se traveste de mulher
para procurar a esposa. É descoberto pela guarda nazista e morto. Logo que os
nazistas abandonam o campo, seguidos pelos judeus sobreviventes, Giusoé
finalmente sai de seu esconderijo. O campo se encontra deserto. Logo aparece um
tanque e ele acredita ter ganho o prêmio. É acolhido por um soldado americano,
que o entrega para a mãe, que encontram mais à frente.
Mesmo
unindo seu humor primitivo, que apesar das limitações, possui em alguns
momentos um charme à là Monicelli, com uma excelente direção de fotografia e
direção de arte, que apenas reforçam o caráter de assumida fábula, o filme de
Benigni deixa a desejar tanto pelo excesso de fantasia como por uma série de
previsibilidades - como o tanque do salvamento final - e clichês no roteiro.
Utilizando-se a todo momento de fórmulas batidas e da farsa, como a da mulher
que prefere se jogar na aventura de escolher um homem pobre e que ama a ter que
viver no tedioso mundo dos ricos, como a mocinha faz em Titanic, muito da pretensa graça do filme se perde. Afinal a arte
de se conseguir uma dosagem apropriada de clichê e farsa não é das mais fáceis,
como Benigni já havia provado em O Pequeno Diabo. Uma das cenas mais
instigantes do filme é a que o protagonista passeia com o filho adormecido nos
braços e se depara com a multidão de cadáveres do campo e curiosamente, na cena
mais realista o que vemos é uma representação dos mortos através de um grande
painel pintado. A interpretação de Benigni soa patética em certos momentos como
quando prefere desfilar alegre e sorridente como um personagem de
desenho-animado para à morte, já que sabe que o filho o vê ou quando fica
indeciso entre o cômico e o dramático, no momento que relatam as atrocidades do
campo. Nessa cena rói por terra o equilíbrio entre o drama e o cômico, que se
encontram bem estruturados na maior parte do filme. Como construção ficcional
que rompe com o tabu de certos temas que só são construídos sob o ponto de
vista do efeito dramático e geralmente sob o peso da gravidade, Mont Phyton - A Vida de Brian (1979),
consegue ser mais bem sucedido. De qualquer forma, Benigni por bem ou mal,
demonstrou que qualquer policiamento agressivo a forma como um tema deve ser
tratado apenas pode significar um empobrecimento na criação de um universo
ficcional, assim como uma perda de dimensão humana - e o personagem do nazista
como um ser de carne-e-osso à nível de igualdade com os outros é um dos trunfos
do filme. Ao olhar ingênuo da criança como redentor de um mundo adulto
apodrecido contrapõe-se o extremo oposto da mesma visão da guerra pelo olhar
infantil que é obrigado a amadurecer precocemente em Alemanha, Ano Zero (1948) de Roberto Rossellini. Alusão à Roma: Cidade Aberta (1945), do mesmo realizador,
no momento em que Guido persegue desesperado o caminhão que pensa levar sua
esposa. Bela trilha de Piovani, conseguindo ao mesmo tempo ser mais contida do
que a de Cinema Paradiso. Melampo
Cinematografica. 122 minutos.
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