Filme do Dia: Despedida de Ontem (1966), Alexander Klüge
Despedida de Ontem – Anita G. (Abschied von Gestern – Anita G., Al. Ocidental, 1966). Direção e
Rot. Original: Alexander Klüge, sobre seu próprio argumento. Fotografia: Thomas
Mauch & Edgar Reitz. Montagem: Beate Mainka-Jellinghaus. Com: Alexandra Klüge,
Günther Macke, Hanns Brammer, Hans Korte, Palma Falck, Ado Riegler, Peter
Staimmer, Ursula Dirichs, Eva Maria Meineke.
Anita G. (Klüge) é uma jovem sem
apoio familiar que, desempregada, procura se manter na sua situação dificil.
Presa por tentar roubar um casaco de peles, ao sair ela tenta diversas formas
de emprego, estudar em uma universidade, mas se torna amante de um importante
funcionário do governo alemão, Pichota (Macke), que a abandona quando não
percebe nenhum avanço em seus estudos, orientados agora por ele próprio, além
da pressão social pelo fato de ser casado. Anita continua sua jornada sem rumo
e se entrega ela própria à polícia por novas infrações.
Em seu primeiro longa-metragem, Klüge
descreve de modo grandemente distanciado emocionalmente a trajetória errante de
sua protagonista, inserindo ocasionalmente elementos que deixam bastante
evidente se tratar de uma construção narrativa. Nesse sentido se pode pensar
a ocasional aceleração de movimento das
imagens, inserções aparentemente desconexas com o eixo da narrativa, travellings circulares monumentais, como na
famosa seqüência em que a câmera particularmente circunda a protagonista em um
descampado e mesmo “falhas de produção”, como as presentes na interpretação de
Alexandra Klüge, irmã do realizador e colaboradora em quatro de seus filmes.
Para não dizer da própria sombra do equipamento de filmagem e sonorização,
entrevisto em vários momentos, aparentemente de modo proposital. Quanto a
inclusão de “falhas” de produção, é interessante perceber que o realizador faz
uso bastante distinto do que, décadas depois, tornar-se-ia chavão em produções
de maior apelo comercial, a introdução de tomadas que deram errado nos créditos
finais com fim cômico. Aqui, elas são inseridas no próprio corpo do filme,
demonstrando um certo caráter de ensaísmo e inacabamento. Em pelo menos dois
momentos, observamos Alexandra Klüge ou rir para além da medida do que seria
considerado razoável em termos diegéticos ou mesmo se desculpar por se
encontrar rindo logo ao início do filme.
Entremeado por letreiros de austeridade irônica, elemento que se tornará típico
em muitos realizadores do movimento, infelizmente não consegue manter o mesmo
ritmo de seu início e se torna eventualmente cansativo em seu excessivo
afastamento de protocolos dramáticos mais convencionais, uma característica que
se tornará ainda mais radical não somente em filmes posteriores do realizador
quanto em boa parte do Novo Cinema Alemão como um todo, algo que cineastas como
Fassbinder ou Herzog conseguiram driblar. O tema do anti-semitismo aqui, como
em outra produção contemporânea do Novo Cinema Alemão que também terá
repercussão internacional, O Jovem Törless, permanece referido ainda que de modo enviesado – sua única
referência aqui diz respeito ao fato da família ser de origem judia, e ter
perdido seus bens nos eventos de 1933-34. Independent Film-Kairos Film para
Konstantin Film. 88 minutos.
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