The Film Handbook#160: Alan Parker
Alan Parker
Nascimento: 14/02/1944, Londres, Inglaterra
Carreira (como realizador): 1974 -
Apesar de óbvio, nunca é demais dizer que os filmes de Alan Parker traem suas origens na publicidade para a TV e o cinema. O estilo tende a dominar o conteúdo, com a lógica do enredo, as personagens e a consistência moral fragilizadas diante dos fáceis efeitos emocionais.
Um crítico sem rodeios da tradição britânica de realismo comportado e cinza, Parker realizou sua estreia em longa-metragem com o inócuo e eminentemente digno de esquecimento Bugsy Malone: Quando as Metralhadoras Cospem/Bugsy Malone, no qual crianças em trajes dos anos 30 alegremente disparam armas munidas de sorvetes umas contra as outras. Mais sério, o roteirizado por Oliver Stone O Expresso da Meia-Noite/Midnight Express>1 retrata as horrendas e brutais atribulações sofridas por um traficante de drogas americano em uma prisão turca: o ritmo e iluminação de sua cinematografia destacavam-no como um técnico superior, mas sua manipulação do roteiro essencialmente melodramático abriu flancos para acusações justificadas de racismo, com todos os indivíduos turcos sem exceção descritos como suados, sádicos e irremediavelmente corruptos. Menos inflamado, mais igualmente extravagante, foram Fama/Fame (um cansativo e vazio musical de danças que inspiraria uma série de TV), A Chama que não Se Apaga/Shoot the Moon (um inadequadamente fundamentado conto do colapso do casamento de um romancista), e Pink Floyd - The Wall, uma ridiculamente ingênua narrativa da ruína de um astro de rock, que fazia uso da grotesca animação de Gerald Scarfe para reforçar sua visão de um mundo insano, injusto e cruel. Talvez não surpreendentemente, dada a trajetória de Parker, o resultado foi um infinitamente extenso e pretensioso clipe musical.
O desgosto de Parker pelo realismo e amor por efeitos fantásticos o levam a seguir a filmar o alegórico romance de William Wharton Asas da Liberdade/Birdy, no qual um veterano do Vietnã relutantemente tenta ajudar um amigo de infância, que catatonicamente pensa ser ele próprio um pássaro à retornar a sanidade. Uma vez mais, a ênfase em imagens lustrosas drenam o filme de sutileza, apesar das interpretações serem por vezes fortes o suficiente para recusar o bombástico. Da mesma forma, Coração Satânico/Angel Heart>2, apesar de ser pouco usualmente afinado com o estilo demasiado enfático de Parker (um detetive decadente é contratado por um estranho literalmente diabólico para encontrar uma cantora desaparecida em uma série de assassinatos brutais) foi dependente do simbolismo de clichês religiosos e sensualidade vulgar para embelezar sua análise faustiana de culpa e corrupção. Portanto, ainda quando lida com a forma de um thriller, ele realiza o impactante mas controverso Mississippi em Chamas/Mississippi Burning>3, sobre agentes do FBI investigando o assassinato de três trabalhadores vinculados aos direitos civis no Mississippi de 1964. Como em O Expresso da Meia-Noite, suas excelentes interpretações e sua justificada atitude hostil a Ku Klux Klan foram debilitados por sua perversa negligência da parte crucial efetivada pelos negros no movimento pelos direitos civis.
Parker tem frequentemente atacado à pretensão artística mas sua obra, caracterizada por visuais de uma mão pesada e seu gosto por temas controvertidos e sensacionalistas parece sugerir um desejo por reconhecimento artístico e intelectual. O moralismo fácil de suas alegorias e simbolismo certificam que sua obra revela menos do que nossos olhos enxergam.
Cronologia
Parker pode ser comparado com Ridley Scott e Tony Scott, Adrian Lyne e Hugh Hudson, todos provenientes do universo da publicidade.
Destaques
1. O Expresso da Meia-Noite, Reino Unido, 1978 c/Brad Davis, John Hurt, Bo Hopkins, Randy Quaid
2. Coração Satânico, EUA, 1987 c/Mickey Rourke, Robert De Niro, Lisa Bonet
3. Mississippi em Chamas, EUA, 1988 c/Gene Hackman, Willem Dafoe, Brad Dourif
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 213.
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