Filme do Dia: My Motherland (1933), Iosif Kheifits & Aleksandr Zarkhi

Moya rodina Poster

My Motherland (Moya Rodina, União Soviética, 1933). Direção: Iosif Kheifits & Aleksandr Zarkhi. Rot. Original: Mikhail Bleiman, Iosif Kheifits & Aleksandr Zarkhi. Fotografia: Moisei Kaplan. Música: Gavriil Popov. Dir. de arte: Nikolai Suvorov. Com: Bari Haydarov, Gennadiy Michurin, Aleksandr Melnikov, Yanina Zhejmo, Yun Fa-shu, Konstantin Nazarenko, Lyudmila Semyonova, Oleg Zhakov.
O exército chinês inicia  uma invasão do território soviético a partir de uma ponte situada na fronteira. Vários soldados soviéticos se mantem cumprindo o seu dever de resguardar a fronteira mesmo sob o custo de suas vidas ou de sua integridade física. Dentre os muitos chineses capturados se encontra Van (Haydarov). Alguns homens do Exército Vermelho como Vaska (Melnikov) e Malyutka (Nazarenko) aprendem algumas palavras em chinês. Um dos líderes da frente soviética, Vasily, é capturado e torturado por um grupo de militares chineses unido aos brancos russos. O jovem Van é testemunha da covardia.

Essa produção, dividida em oito partes – talvez como forma de economizar tempo narrativo, pois cada uma das partes faz avançar abruptamente o mesmo, sem que os detalhes sejam expostos – é tida como a primeira a ter sido oficialmente banida pelo próprio Stálin. A terceira parte – talvez cada parte correspondesse mais ou menos a um rolo de filme – encontra-se perdida. Sua divisão, após o ingresso do “protagonista” na guerra,  corresponde a uma espécie de diário coletivo das situações vividas pelo batalhão, o que é acentuado pelo uso do pronome na primeira pessoa do plural para descrever as ações, o que evidentemente também puxa por uma pretensa identidade nacional (o “nós” enquanto nação).  Sua sonorização é tão precária que até mesmo sugere que tenha sido feita a posteriori, hipótese que ainda ganharia mais força pela presença de cartelas, embora seja uma pista falsa e da precariedade técnica não se fez uma motivação artística – como em M (1930), de Lang. Não se trata provavelmente apenas de uma questão técnica, a forma como gargalhadas e ruídos se encontram dispostos na banda sonora soam pouco naturalistas, sendo que evidentemente não se trata aqui de uma intenção estética. Numa das poucas cenas que se safam de uma situação virtualmente incompreensível para qualquer espectador não familiarizado com o momento histórico encontra-se a que o garoto alimenta um prisioneiro amordaçado com leite, demonstrando uma inversão de papéis provocada pelo caos da guerra. Embora seja um filme patriótico, como o próprio título fortemente sinaliza, o motivo de sua censura pouco após lançado diz respeito a apresentação da morte de vários soldados vermelhos, segundo o líder máximo soviético então. Poder-se-ia arriscar ir um pouco além e afirmar que o filme não sofre da excessiva idealização da guerra e/ou do patriotismo, sua trilha sonora discreta, interpretações relativamente contidas, ausência de voyeurismo espetacular para com as cenas de batalhas e de uma relação protagonismo/coadjuvância bem definidos, todos lhe deporiam desfavoravelmente, sendo contrários a um modelo de propaganda mais rotineiro. Seu tom mais desavergonhadamente ufano surge apenas em uma longa cena próxima ao final, com direito a despedida emocionada das tropas do exército e trilha sonora marcial, e se observa um chinês se revoltar contra o seu patrão, numa nada discreta alusão ao fim da subserviência chinesa ao Ocidente, embora o final se volta uma vez mais ao cotidiano trivial e melancólico entrevisto ao início. Ambos os cineastas teriam carreira longeva, realizando seus últimos filmes em meados dos anos 80 (Zarkhi) e idos de 90 (Kheifits). Rosfilm. 82 minutos. 

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