Filme do Dia: Der Gang in die Nacht (1921), F.W. Murnau
Der
Gang in die Nacht (Alemanha, 1921). Direção: F. W. Murnau. Rot. Adaptado: Carl Mayer, a partir do
roteiro de Harriet Bloch. Fotografia: Max Lutze. Dir. de arte: Heinrich
Richter. Com: Olaf FÆnns,
Erna Morena, Conrad Veidt, Gudrun Bruun-Stefenssen, Clementine Plessner.
O médico Eigil Borne (FÆnns) abandona sua noiva Lili
(Bruun-Stefenssen) por uma corista que finge um acidente para se aproximar
dele, Helene (Morena). Junto com Helene, Borne monta uma clínica em uma ilha
distante. Lá vive seu idílio amoroso até a chegada de um misterioso pintor cego
(Veidt), que pretende que ele o cure. O cirurgião consegue curá-lo, porém descobre
que Helene agora se encontra nos braços do pintor, ficando em completo estado
de perturbação. O pintor volta a ficar
cego e Helene lhe implora que seu ex-marido os auxilie, mas ele se recusa.
Arrependido, ele vai atrás dela e a encontra morta.
Esse drama, caracteristicamente pessimista e
sombrio como as obras associadas tanto a Murnau quanto a Mayer, é o filme mais
antigo do realizador que ainda permanece completo. Seu romantismo delirante
abdica de referências funestas explícitas. Ainda que o interior da mansão de
Eigil talvez se encaminhe
nesse sentido, a maior parte do filme é construída em locações a céu aberto.
Porém até mesmo esses cenários acabam de um modo ou de outro contaminados,
ainda quando no momento de idílio amoroso do casal, por uma eminência trágica
que parece se anunciar a cada momento. Essa ocorre, de fato, e de modo bastante
evidente, com a chegada do personagem vivido por Veidt, ele próprio já uma
referência sinistra desde que vivera pouco antes seu papel mais famoso, o
Cesare de O Gabinete do Dr. Caligari(1919). Se há algo que aproxima esse filme dos filmes mais marcademente
expressionistas contemporâneos é o tema das paixões desenfreadas, de uma
interioridade que não mais se contém em si mesma e explode em gestos de ira ou
amor. Tal manifestação aqui prescinde de qualquer auxílio de trucagens como era
habitual (O Gabinete do Dr. Caligari, A Morte Cansada, Sombras e, do próprio Murnau, O Castelo Vogelöd). E a narrativa como um todo, igualmente, prescinde de entretítulos,
técnica pioneira da dupla Mayer-Murnau - ainda que Lotte Eisner afirme que existiam muitos e abundantes para essa produção, perdidos como alguns trechos do próprio filme - que chamaria a atenção de boa parte do
mundo, podendo ser perfeitamente contada a partir apenas da maestria da narrativa visual
– algo que voltaria a ser presente em filmes tão diversos quanto Sombras e A Última Gargalhada (1924), filme igualmente de Murnau que seria
bem mais influente e considerado, equivocadamente, por muitos como o primeiro
filme a deixar de lado os entretítulos. Há uma dimensão moralista acentuada no
drama, assim como o sempre lembrado por Kracaeur “infantilismo” que acomete os
personagens masculinos em relação à figura da mulher – tanto o pintor quando o
médico são observados, em momentos diversos, encostando suas frontes sob o
ventre acolhedor de Helene. Murnau parece já ensaiar com Veidt, o seu pouco
realista e mesmo sombrio modo de se movimentar e mover as mãos, o que faria com
o personagem-título de Nosferatu
(1922). 77 minutos.
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