Filme do Dia: As Aventuras de um Paraíba (1982), Marco Altberg
As Aventuras de um Paraíba
(Brasil, 1982). Direção: Marco Altberg. Rot. Original: Antonio Calmon &
José Gonçalves do Nascimento, a partir do argumento do último. Fotografia:
Carlos Egberto Silveira. Música: Dominguinhos, Amilton Godoy & Guadalupe.
Montagem: Raimundo Higino. Dir. de arte: Carlos Assunção & Clovis Bueno.
Figurinos: Clovis Bueno. Com: Caíque Ferreira,
Lourival Félix, Cláudia Ohana,
Tamara Taxman, Paulo Villaça, Paulão, Íris Bruzzi, Guará Rodrigues.
Zé
(Ferreira), retirante nordestino recém-chegado ao Rio, é acolhido pelo amigo Zé
Preto (Félix). Porém, logo o destino os apartará. Enquanto Zé passa a ganhar a
vida a partir do sexo e amizades, sobretudo com uma namorada de classe média,
Débora (Taxman), Zé Preto envereda pelo mundo do crime. Mesmo se tornando uma
figura inserida em meio a zona sul carioca, e vivendo uma relação aberta com
Débora, Zé jamais esquece a cega Branca (Ohana), que salvou de ser atropelada e
é vítima de Miguel (Villaça), policial envolvido com a criminalidade, que a
quer por força como mulher. Em meio a orgia de um baile carnavalesco, Zé
encontra Branca, porém não consegue se aproximar dela, sendo espancado pelos
seguranças. Ferido e magoado, ele é acolhido por Zé Preto, que o leva para seu
barraco. No noticiário da TV, ele observa Miguel dando uma entrevista e
afirmando que se encontrará no desfile das escolas de samba. Vai até o local, e
enquanto Miguel fala para a TV, Zé leva com ele Branca. Miguel e seus capangas
o perseguem, mas Zé Preto dá cobertura ao casal e é assassinado.
Canhestro
filme que não consegue se definir com substância em qualquer gênero, dado ao
seu amadorismo. Explorando o tema do retirante nordestino sobretudo como
pretexto para exploração sexual, o filme igualmente parece beber em várias
fontes diversas e longe de coesas. Existe desde referências soltas ao movimento
operário, através da greve na qual Zé Preto apanha e desperta para uma
consciência de que somente poderá ganhar algo entrando para a criminalidade,
muitas cenas evocativas do universo da pornochanchada – incluindo uma cena de
sexo de Zé com um gay de Copacabana - e romantismo barato. Talvez a melhor
descrição de quão incongruente é o filme seja o da união no casal de Luzes
da Cidade (1931), de Chaplin, com Perdidos na Noite (1969), de
Schlesinger, ou a sensível (e aqui também sensitiva cega) que é florista com o
gigolô que topa tudo por dinheiro. Soma-se a isso, paisagens do Rio, uma ida do
protagonista ao programa do Chacrinha, a um jogo do Flamengo (no auge do
estrelato de Zico, que surge numa breve ponta) e nos desfiles carnavalescos. A
“morte” vivida por Zé Preto ao final, é uma evidente referência ao Orfeu do Carnaval (1959), de Camus e, se pretende ser um comentário sobre o racismo
– afinal os dois personagens são conhecidos como Zé Branco e Zé Preto – acaba
por involuntariamente reforça-lo ao destinar ao negro a maior virtude de morrer
para que o amigo branco possa vivenciar sua história de amor em paz, matando
igualmente o vilão. Ou seja, mesmo depois daquele ter avisado que esse era um
negócio dele, Zé Preto não apenas não abandonará o amigo como se sacrificará
por ele o livrando de fazer justiça com
suas próprias mãos. A figura do personagem vivido por Ferreira, que faria
apenas mais um filme antes de sua precoce morte, seria a própria representação de uma
cordialidade camaleônica que trafega por todos os mais diversos ambientes e
grupos. Em diversos momentos de sua odisseia pelo imaginário mais tipicamente
associado ao Rio, o filme não deixa de explorar a nudez, seja apresentando
brevemente um jogador de futebol despido
no vestiário ou garotas semi-nuas ou completamente nuas no baile carnavalesco.
Diadema Prod./Embrafilme/Filmes do Triângulo/Luiz Carlos Barreto Prod.
Cinematográficas para Embrafilme. 85 minutos.
Comentários
Postar um comentário