Filme do Dia: A Queda (1962), Kon Ichikawa
A Queda (Hakai,
Japão, 1962). Direção: Kon Ichikawa. Rot. Adaptado: Natto Wada, a partir do
romance de Tôson Shimazaki. Fotografia: Kazuo Miyagawa. Música: Yasushi
Akutagawa. Dir. de arte: Yoshinobu Nishioka. Com: Raizô Ichikawa, Rentarô
Mikuni, Shiho Fujimura, Eiji Funakoshi, Keiko Kishida, Ganjiro Nakamura, Seiji
Miyaguchi, Hiroyuke Nagato. Yoshi Katô, Haruko Sugimura.
Segawa Ushimatsu (Ichikawa) se torna
órfão de pai, quando da súbita morte desse após enfrentar um touro. Seu tio
(Katô) lhe aconselha fortemente a
esconder-se e fazer parte de uma família
de burakumins, segmento social tido
como impuro por tradicionalmente ter exercido profissões impopulares. Ushimatsu
é ávido leitor de Inoko Rentaro, escritor e defensor dos direitos dos
burakumins, a quem conhece pessoalmente. Segawa possui forte atração por Oshiho
(Fujimura), filha de um professor alcóolatra caído em desgraça. Segawa se torna professor primário. Aos
poucos, fortes boatos se espalham a respeito dele ser um burakumin. Quando Rentaro visita-o, ele finge nunca
tê-lo conhecido, mesma estratégia que já havia utilizado quando fora procurado
por um político candidato a prefeito. Quando Rentaro surge morto, Segawa decide
que é hora de assumir e o faz diante de sua classe de crianças. Ele assina uma
carta de demissão e resolve partir para Tóquio com Oshiho como sua companheira,
sendo saudado por boa parte da população, incluindo seus ex-colegas de escola e
as crianças.
Um senso de proporção, no limite
quase exagerado, parece acompanhar o filme, disseminando-se pelos delicados e
sutis fades em harmonia perfeita com
sua não menos discreta e penetrante trilha sonora. Soma-se a isso a escolha dos
ângulos que traz belos recortes dentro dos planos e os tons algo
esmaecidos-melancólicos da fotografia e se tem construída uma perfeita
representação do universo de seu atormentado protagonista, cujo luto pelo pai é
antecedido e procedido pela melancolia de si próprio e de sua condição social
pária sobre a qual não possui domínio. Dito isso, muito de sua força se perde
quando resolve apelar para o sentimentalismo fácil e patético, como se os
sentimentos fossem capazes de dobrar com facilidade enraizados tabus sociais de
longa duração. De toda forma sua postura auto afirmativa coincide
involuntariamente com a plataforma das minorias em sociedades ocidentais,
sobretudo àquelas gerações pós-1968. Partindo de um protagonista que mesmo sem
ser exatamente um pária, sofre igualmente com forte ressentimento social,
inclusive por ser, como aqui, dotado de um talento superior aos seus adversários,
A Nova Saga do Clã Taira (1955), de
Mizoguchi, consegue ser de longe mais parcimonioso e menos sentimental em seu
final. Daiei Kyoto/Daiei Studios para Daiei Studios. 119 minutos.
Comentários
Postar um comentário