Filme do Dia: Cada Um com Seu Cinema (2007), vários

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Cada Um com Seu Cinema (Chacun son Cinema ou Ce Petit Coup au Coeur Quand la Lumière s´eteint et que le Film Commence, França, 2007). Direção: Theodoro Angelopoulos (Trois Minutes), Olivier Assays (Recrudescence), Billie August (The Last Dating Show), Jane Campion (The Lady Bug), Youssef Chahine (47 Ans Aprés), Chen Kaige (Zhanxiou Village), Michael Cimino (NoTranslation Needed), Ethan & Joel Coen (World Cinema), David Cronemberg (At the Suicide of the Last Jew in the World in the Last Cinema of the World), Jean-Pierre & Luc Dardenne (Dans l´Obscurité), Manoel de Oliveira (Rencontre Unique), Raymond Depardon (Cinema D´Éte), Atom Egoyan (Arthur Double Bill), Amos Gitai (Le Dibbouk de Haifa), Alejandro González-Iñarritu (Anna), Hou Hsiao-Hsen (The Eletric Princess House), Aki Kaurismäki (La Fonderie), Abbas Kiarostami (Where is my Romeo?), Takeshi Kitano (One Fine Day), Andrei Konchalovski (Dans le Noir), Claude Lelouch (Cinema de Boulevard), Ken Loach (Happy Ending), David Lynch, Nanni Moretti (Diario di un Spettatore), Roman Polanski (Cinéma Erotique), Raoul Ruiz (Le Don), Walter Salles (A 8944 Km de Cannes), Elia Suleiman (Irtebak), Tsai Ming-liang (It´s a Dream), Gus Van Sant (First Kiss), Lars Von Trier (Occupations), Wim Wenders (War in Peace), Wong Kar-wai (I Travelled 9000 km to Give it to You), Zhang Yimou (En Regardent le Film). Fotografia: Marc-André Batigne (Irtebak), Dirk Brüel (The Last Dating Show), Greig Fraser (The Lady Bug), Francis Grumman (No Translation Needed), Kwan Pung-Leung (I Travelled 9000 km to Give it to You), Emmanuel Lubezki (Anna), Francisco Oliveira (Rencontre Unique), Mauro Pinheiro Jr. (A 8944 Km de Cannes), Andreas Sinanos (Trois Minutes). Montagem: Wiliam Chang (I Travelled 9000 km to Give it to You), Bodil Kjaerhauge (Occupations), Véronique Lange (Irtebak), Valérie Loiseleux (Rencontre Unique), Gabriel Reed (No Translation Needed). Dir. de arte: William Chang (I Travelled 9000 km to Give it to You), Elizabeth Keenan (Anna), Miguel Markin (Irtebak). Figurinos: Pierre Boubli & Fabio Perrone (Rencontre Unique). Com: George Babluani, Deniz Ganze Erguven, Lionel Dray (Recrudescence), Josh Brolin (World Cinema), Antoine Chappey, Duarte de Almeida, Michel Piccoli (Rencontre Unique), Farini Cheung, Fan Wing (I Travelled 9000 km to Give it to You), Casper Christensen (The Last Dating Show), Yves Courbet, Juliana Muñoz (No Translation Needed), Jean-Claude Dreyfus, Sara Forestier (Cinéma Erotique), Takeshi Kitano (One Fine Day), Denis Podalydès (Cinéma de Boulevard), Elia Suleiman (Irtbak), Lars Von Trier (Occupations), Jeanne Moreau (Trois Minutes), Brooke Smith (World Cinema), Caju & Castanha (A 8944 Km de Cannes).

Esses curtas foram produzidos para comemorar os 60 anos do Festival de Cannes. Com duração de 3 minutos cada, tem-se talvez a maior reunião de nomes vinculados a um cinema de porte mais autoral da história do cinema. Porém, como se sabe, nem sempre quantidade é sinônimo de qualidade. O que se destaca, mais que qualquer outra caracterização, é a do cinema como local de nostalgia, decadência, algo que pode estar diretamente associado ao local de exibição (Cinéma Erotique, One Fine Day,  Dans le Noir e, principalmente, The Eletric Princess House) ou ainda referências diretas a morte, roubo e/ou sexo (Dans le Noir,Recrudescence, At the Suicide of the Last Jew in the World in the Last Cinema of the World, Le Dibbouk de Haifa) mesmo quando divertidas (Occupations). Muitos dos cineastas que raramente são dublês de atores resolveram se mostrar também diante das câmeras, caso de Lars Von Trier, que mata a picaretadas um espectador incômodo ao seu lado ou David Cronemberg, que personifica o próprio suicida que menciona o título. No caso do último, a metáfora da televisão em transmissão ao vivo é que pretende registrar os últimos momentos tanto de um judeu quanto do cinema em uma distopia futura. Outros, como Chahine, persistem num culto da egolatria que poderia ser poupada ou suavizada sem o ridículo final – o cineasta encena o fracasso de seu segundo filme como realizador exibido no festival, porém não se escusa de apresentar uma mensagem moral de incentivo aos novos realizadores quando apresenta imagens da homenagem e do prêmio especial que recebeu do festival 4 décadas após. Entre os destaques a fotografia de Anna, o belo tributo a Artaud por Egoyan, a sofisticação de Ruiz (que ressuscita Londsale, ator associado a fase final de Buñuel) e até mesmo o sentimentalismo habitual de Lelouch, assim como as surpreendentes imagens marinhas (e não mais que isso) que abrem o episódio de Gus Van Sant. Assim como a tirada final do curta de Loach, um dos últimos, em que após momentos de indecisão que deixam a fila de cinema furiosa, o filho pede ao pai para assistirem um jogo de futebol. Tampouco se deve esquecer o o humor de Suleiman, talvez o único que realmente funcione juntamente com as idiossincrasias do “repente” de Caju&Castanha em Salles, ainda que no caso do último, esse fique mais por conta da dupla que do próprio curta. Muitas outras tentativas falham seja por conta de sua inocuidade (caso do de Campion) ou de uma caricatura por demais grosseira (caso de Manoel de Oliveira). Ainda que a esmagadora maioria dos realizadores seja de origem européia, o cinema americano, inevitavelmente é lembrado seja no tributo a dupla Rogers&Astaire por Lelouch ou na maior parte dos títulos citados, mesmo que ironicamente, por Moretti em suas memórias de espectador, ainda que o grosso das menções seja ao cinema europeu, sendo Fellini o mais recordado (não por acaso o filme é dedicado a ele), Godard e Bresson referenciados (através de sua trilha musical e das pretensas imagens que a platéia assiste) pelos Irmãos Dardenne e por Hou Hsiao-hsien. É interessante o modo como Konchalovsky presta seu tributo a Fellini, fazendo da alucinada protagonista dona do cinema uma figura visualmente felliniana, ainda que o próprio filme esteja longe de querer inutilmente mimetizar o estilo anti-naturalista do mestre. Já Dardenne à primeira vista parecia mais próximo de homenagear Kieslowski (Não Amarás) que Bresson. Porém, certamente existem tributos (?) mais insólitos, como o que Kiarostami faz ao Romeu e Julieta (1968), de Zefirelli. A força do cinema asiático fica demonstrada na quantidade de realizadores selecionados. Alguns cineastas parecem retornar aos seus primeiros tempos, quando somente produziam no formato curta-metragem, seja no caso de um experimentalismo meio estéril de Lynch ou do mais bem resolvido retorno ao humor negro de Polanski, mesmo que sem a sofisticação de seu Dois Homens e um Guarda-Roupa. Ainda que o episódio de Gitai seja um dos menos interessantes e mais esquemáticos de todo o filme, torna-se interessante o uso  experimental que ele faz das transições ao longo de praticamente toda a duração do filme, abortando em seu final qualquer tentativa de mérito maior. Cannes Film Festival/Elzevir Films. 119 minutos.

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