Filme do Dia: Os Inocentes Charmosos (1960), Andrzej Wajda
Os Inocentes Charmosos (Niewinni Czarodzieje, Polônia, 1960).
Direção: Andrzej Wajda. Rot. Original: Jerzy Andrzejewski & Jerzy
Skolimowski. Fotografia: Krzysztof Winiewicz. Música: Krysztof Komeda.
Montagem: Wieslawa Otocka. Dir. de arte: Leszek Wajda. Com: Tadeusz Lominicki,
Krystyna Stypulkowska, Wanda Koczeska, Kalina Jedrusik, Teresa Szmigielówna,
Zbgniew Cybulski.
Bazyli (Lominicki) é médico que atende
a lutadores de boxe e músico amador nas horas vagas. Mulherengo, mas cansado da
vacuidade do mundo de relações instáveis de seus amigos boêmios, sente algo
diferente pela bela e jovem Pelagia (Stypulkowska) quando após um acerto com um
amigo, vê-se com ela em seu apartamento. Eles falam sobre a moral e o amor,
porém Bazyli a deixa cochilando para atender seus amigos que vem de uma farra.
Ao retornar, não mais a encontra e a procura pelas ruas da cidade. Ao voltar ao
apartamento, ela se encontra novamente lá, porém disposta a ir embora.
Realizado no auge das produções mais
politizadas pelo qual é mais conhecido, essa pequena gema com uma fotografia
inacreditavelmente bela em p&b, assim como uma elegante fotogenia e
excelente elenco (com a presença numa diminuta ponta de Polanski, como um dos
músicos) pretende, como outras produções contemporâneas que exalam sua bossa
modernista, unirem a errância e/ou confusão existencial de seus protagonistas
ao improviso do jazz (como é o caso de Shadows
ou Ascensor para o Cadafalso).
Soma-se a isso a sua própria inteligente e sutil evocação do longo diálogo do
casal enquanto encenação teatral, sem ocultar um olhar direto de Lominicki para
a câmera e sua pungente, mas longe de sentimental (quando contraposta, por
exemplo, a uma aproximação mais convencional de semelhante tema pelo
cinema hollywoodiano de sua época com Bonequinha de Luxo) do amor enquanto
antídoto para o cinismo e a mesmice cotidianas e os jogos de sedução e oclusão
da explicitação do mesmo e se tem a medida de como o filme se sustenta
interessante mais de meio século após seu lançamento. Menos interessante,
talvez, sejam os diálogos que se pretendem conscientemente espirituosos ou
charmosos como prefere o título. Há uma premência com relação ao momento
“presente”, algo acentuado por sua compressão temporal, que embora longe de
incomum em seus pares internacionais, aqui se faz particularmente destacada.
Brincando com os códigos de sensualidade até então permitidos, a determinado
momento observamos a carismática Stypulkowska, que somente voltaria a surgir em
dois outros filmes, enrolar-se em um lençol, emulando um traje grego numa
lascívia quase digna de Anita Ekberg. Ao desenrolar-se, no entanto, e postar o
lençol sobre o varal diante da câmera/Bazily/espectador logo se perceberá que
ela se encontra completamente vestida. Foi criticado, assim como Faca na Água, de Polanski, por abordar
a juventude sem a moldura moral que o regime polonês pretendia que fosse imperativa
em sua produção. Seu co-roteirista Skolimowski seguiria ele próprio uma longeva
carreira como cineasta, iniciada nesse ano com vários curtas. P.P. Film Polski.
87 minutos.
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