Filme do Dia: Magnólia (1999), Paul Thomas Anderson
Magnólia (Magnolia, EUA, 1999). Direção e Rot.
Original: Paul Thomas Anderson. Fotografia:
Robert Elswit. Música: Jon Brion. Montagem: Dylan Tichenor. Dir. de arte: William
Arnold, Mark Bridges, Shepherd Frankel & David Nakabayashi.
Cenografia: Chris L. Spellman. Figurinos: Mark Bridges. Com: Jeremy Blackman,
Tom Cruise, Melinda Dillon, Luis Guzmán, Philip Baker Hall, Philip Seymour
Hoffman, William H. Macy, Julianne Moore, Jason Robards, Melora Walters.
As vidas de algumas pessoas que moram em San
Fernando Valley e suas atribuições são o material para que o cineasta realize
mais um ácido painel da sociedade norte-americana, no estilo de Robert Altman e
Todd Solondz. Entre essas pessoas se encontram: um garoto (Blackman)
pressionado a ser o melhor num programa de auditório televisivo, o lider; um
animador de um programa de auditório que cultua o macho, Frank T.J. Mackey
(Cruise), que reencontra o pai, Earl (Robards) que se encontra em seu leito de
morte; a atual esposa de Earl, Linda (Moore), arrependida pelo casamento por
interesses; o apresentador de televisão Jimmy Gator (Baker Hall), que descobre
que tem poucos meses de vida e conta para a esposa (Dillon) que abusou
sexualmente da filha, a desequilibrada ninfômana e cocaínomana Claudia
(Walters); o ex-garoto prodígio do show de Gator, hoje com sérios problemas
profissionais e afetivos Donnie Smith (Macy); um policial obcecado pela
disciplina e outros.
Nesse drama de costumes, o cineasta mais
descreve as situações do que procura enfatizar o caráter moral de seus
personagens, ao mesmo tempo refletindo uma simpatia por esses talvez maior que
a apresentada no Felicidade (1999) de
Solondz, filme de estrutura bem similar e utilizando-se de uma montagem
alternada e uma concentração de espaço e tempo que evoca Short
Cuts (1993), de Altman. Um dos grandes trunfos do filme é que, embora
abertamente realista, apresenta seqüências que sutilmente ironizam com esse
realismo, como a da chuva de sapos e a que os personagens cantam a canção Save Me, únicos momentos que o cineasta
procura vincular, de modo mais orgânico,
todas as histórias paralelas que são traçadas. O outro é que, embora
exista uma tensão crescente que parece transformar o pouco que há de estável
nos personagens em absoluto caos, e que se concentra em um momento – a criança
põe em jogo a lógica da pressão cruel a que se vê submetida sem meias palavras
e ao vivo na TV, o policial perde sua arma, Frank Mackey se vê fragilizado
diante do pai moribundo, Linda decide pôr um fim a própria vida – o final se
afasta tanto de um desenlace confortável de todos os conflitos, como da
perpetuação cega e cínica dos mesmos no filme de Solondz, deixando patente que ali se encontram apenas
momentos de uma trajetória de vida maior que aguarda novas alegrias e
decepções. O trabalho dos intépretes, embora irregular, tende para boas
interpretações, com exceções para momentos inconvincentes como o acesso de
fúria de Claudia diante do pai e Mackey chorando no leito de morte daquele. Os
diálogos, demonstram a influência de um senso de comicidade que trabalha
pequenas idiossincrasias à la Quentin Tarantino, como no momento em que Claudia
comenta com o policial sobre a disfunção de seu maxilar. Inicia e finaliza com
um narrador e uma montagem em ritmo de videoclipe, sobre casos mais pitorescos
que os apresentados no filme, como o do homem que acabou acidentalmente sendo
cumplíce da própria morte. Anderson faz parte de um grupo de cineastas
norte-americanos de tinturas mais autorais, não só escrevendo o próprio roteiro
como utilizando com recorrência a mesma equipe técnica e atores. A utilização
de elementos de nonsense dentro de um
contexto realista, como no caso da chuva de sapos, é um recurso que foi
utilizado ao extremo no contemporâneo Quero ser John Malkovich (1999), de Spike Jonze. Urso de Ouro no Festival de
Berlim. Ghoulardi Film Company/New Line Cinema/The Magnolia Project/188
minutos.
Vejo que dá muita atenção a filmes "off Hollywood" e isso é ótimo. É mais comedido nas avaliações, o que também acho notável. Magnólia é uma obra-prima, senti falta de Boogie Nights. Gosta do Solondz. Cara, tu tem personalidade....
ResponderExcluirObrigado. Na verdade estas resenhas são sorteadas e postadas a partir de um acervo de resenhas que venho fazendo desde 1998
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