Filme do Dia: Sem Fim à Vista (2007), Charles Ferguson
Sem Fim à Vista (No End in Sight, EUA, 2007). Direção e Rot. Original: Charles
Ferguson. Fotografia: Antonio Rossi. Música: Peter Nashel. Montagem: Chad Beck
& Cindy Lee.
Esse documentário forjado dentro dos mais banais modos
narrativos que assolam o gênero contemporaneamente pretende apresentar os
principais equívocos da invasão americana ao Iraque. A partir de depoimentos de
funcionários afastados ou ex-combatentes e imagens de arquivo, assim como de
uma narração off, o filme constrói
uma teia de inoperâncias, erros e falta de estratégia. Ao contrário do estilo
explosivo de Michael Moore, no entanto, aqui se preza pelo quase desaparecimento
da figura do realizador, observado somente no áudio em relação a algumas das
perguntas que endereça aos entrevistados. Portanto, segue-se num determinado
padrão mais próximo do documentário televisivo americano, com vantagens e
desvantagens oriundas dessa mesma opção. Entre as desvantagens, se assim pode
ser considerado, a sua menor penetração junto a um público mais amplo que o
achará cansativo e por demais detalhista. Entre as suas maiores vantagens
justamente a precisão com que irá se reportar a certas falhas na estratégia
político-militar, realizada em sua maior parte por um grupo de inexperientes em
ações do gênero que nunca haviam pisado no solo iraquiano, ao extinguirem com o
exército iraquiano. Ou ainda, em chave menor, o quanto a pilhagem que se seguiu
a derrocada do ditador foi completamente ignorada pelas forças americanas,
inclusive no que diz respeito a proteção dos museus e bibliotecas do país,
depositárias de um rico acervo milenar que havia escapado praticamente ileso
até então. Ainda que o filme nem de longe possua o sarcasmo fácil de Moore, ele
tampouco está destituído de pequenas ironias, endereçadas com maior vigor ao
ex-secretário de defesa norte-americano Donald Rumsfeld. Em outro momento a
montagem paralela desconstrói literalmente a fala de um inseguro e tenso Walter
Slocombe, um dos principais responsáveis pela decisão de extinção do exército
iraquiano em contraposição a fala de um bem mais seguro e aparentemente
confiante Coronel Paul Hughes,
provocando um efeito comparável ao de uma acareação. Trata-se de um dos pontos
altos do filme, mesmo que em nada diga respeito a qualquer vestígio de
originalidade, antes pelo contrário. Pode-se até aquiescer que a maior parte
dos entrevistados – o filme não deixa de apresentar todas as honrosas lacunas
dos que recusaram a participação no mesmo – é proveniente dos próprios escalões
simpáticos ao governo, tanto na área diretamente militar quanto de estratégias
de desenvolvimento. Porém tampouco se deve deixar de levar em conta que todos
foram afetados/afastados de seus postos o que é capaz de gerar um discurso
ressentido talvez mais virulento do que o de qualquer oposição aguerrida, já
que com conhecimento de causa das engrenagens internas. É essa energia que faz
o filme se mover praticamente. Red Envelope Ent./Representational Pictures para
Magnolia Pictures. 102 minutos.
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