Filme do Dia: Julie & Julia (2009), Nora Ephron


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Julie & Julia (EUA, 2009). Direção: Nora Ephron. Rot. Adaptado: Nora Ephron, basedo nos livros Julie & Julia, de Julie Powell e My Life in France, de Julia Child & Alex Prud’Homme. Fotografia: Stephen Goldblatt. Música: Alexandre Desplat. Montagem: Richard Marks. Dir. de arte: Mark Ricker & Ben Barraud. Cenografia: Susan Bode. Figurinos: Ann Roth. Com: Meryl Streep, Amy Adams, Stanley Tucci, Chris Messina, Linda Emond, Helen Carey, Mary Lynn Rajskub, Jane Lynch.
2002. Julia Powell (Adams) trabalha em um serviço de atendimento aos parentes das vítimas do World Trade Center, porém descobre uma atividade que realmente a motiva: postar em um blog receitas extraídas diretamente do livro pioneiro de uma norte-americana, a partir da culinária francesa, Julia Child (Streep), uma norte-americana que viveu com o marido, Paul (Tucci), na Paris do imediato pós-guerra. Child consegue, após muito esforço, ter seu  livro de receitas publicado, transformando-se num sucesso, e engatilhando posteriormente uma carreira na televisão num programa de receitas. Powell, enfrenta semelhantes intempéries para cumprir sua promessa de realizar as mais de 500 receitas do livros no prazo de um ano. Dentre eles, a explosão de impaciência do marido Eric (Messina). Após algumas frustrações, seu blog desperta a atenção de uma repórter do The New York Times, e ela se torna alvo de convite de várias editoras para publicar suas receitas, enquanto a veterana Julia Child, já com 90 anos, acaba minimizando o sucesso de Powell.

Ephron, rara cineasta-roteirista no cenário hollywoodiano, demonstra talento e articulação no que poderia se transformar apenas numa comédia senso comum. Sua atração, em parte, delineia-se a partir do momento no qual se assiste a duas narrativas paralelas, orquestradas a partir de realidades históricas distintas. A força da presença feminina passando de uma geração a outra, mesmo que sem o conhecimento direto e pessoal, evidentemente ganha uma conotação de colorações feministas, mas sem cair no tom panfletário, tão temido e ao mesmo tempo explorado recentemente, sobretudo em produções de menor vulto em termos de orçamento. Da mesma forma, os homens de ambas as mulheres são verdadeiros cavalheiros e mesmo que sejam apresentados em segundo plano em relação às mulheres, fundamentais para a concretização de suas empreitadas. O pedido clamoroso de retorno de Paul por Julie, no entanto, é bastante convencional e tampouco seria observado com bons olhos em um filme de propósitos abertamente feministas. Ephron sabiamente evita a fetichização dos sofisticados pratos, que são apresentados de forma um tanto aligeirada, ao contrário de boa parte de produções que, a partir do sucesso de A Festa de Babette, ingressou numa dramaturgia aproximada da gastronomia. E, aproveitando-se do aparente mote da própria realidade, no sentido de que foi baseado em fatos reais escritos pelas duas personagens que formam seu título, outro de seus trunfos é o da não aceitação de Child do trabalho de Powell, que mesmo profundamente magoada, continua a revenciá-la, pois como o seu próprio marido lhe soprou ao ouvido, menos importa a Julia Child real, do que a força simbólica que representou para ela em todo o processo de auto-afirmação. O que também poupa a apresentação de uma Streep caracterizada como senhora de 90 anos e o encontro com sua maior fã. Dito isso, tampouco não sobram restrições ao filme. De sua evidente representação do sucesso a partir da persistência tão enraizada no imaginário norte-americano, e que se repete nos dois casos – e no caso de Powell, de modo ainda mais incomum, dada a sua condição econômica e social bem menos privilegiada – a forma didática que alguns de seus diálogos vem apenas tornar redundante o que já fora exposto por todo o seu belo traçado organizado pela montagem, como quando Julie efetua uma série de comparações de si própria com Julia. Mas, pior do que tudo isso é a falta de maior atenção para o que há de gordura, desnecessária para o melhor cozimento da trama, talvez na ânsia de ser mais “fiel” as obras adaptadas e mesmo a inclusão de personagens que seria talvez desnecessários, como é o caso das amigas e “co-autoras” do livro de Julia e, principalmente, seu desfecho, que poderia ser muito melhor concluído na janela do apartamento de Julie, num convite a degustação do próprio filme. Das interpretações, bastante equilibradas, destoa a de uma Streep excessiva no papel de ingênua e emocional americana na França. Columbia/Easy There Tiger Prod./Scott Rudin Prod. para Columbia Pictures. 123 minutos.

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