Filme do Dia: Un Chant d'Amour (1950), Jean Genet

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Un Chant d´Amour (França, 1950). Direção, Rot.Original e Fotografia: Jean Genet. com: Java, André Reybaz, Coco Le Martiniquais,Lucien Sénémaud.
Esse curta-metragem foi a única incursão de Genet pelo cinema. Censurado durante muitos anos, seu forte teor homo-erótico, centrado na impossibilidade da concretização da atração entre dois prisioneiros encarecerados em celas vizinhas, não se furta a cenas de masturbação explícita. O fato de ser mudo, ainda que tenha sido adicionada uma trilha jazzística quando de seu lançamento nos cinemas em 1973, teria como função acentuar ainda mais o aspecto visual numa dimensão carnal praticamente inédita em um cinema não pornográfico (algo do qual o filme chegou a ser acusado). Entre seus melhores momentos, em termos dramáticos, o que um dos homens é espancado por um guarda que se sente enciumado pela amizade da dupla protagonista. Enquanto ele é espancado, seu vizinho sonha com um idílico passeio no campo. O fato do passeio não ser tratado de modo acentuado como fantasia, torna ainda mais eficaz o contraste entre a realidade concreta e os desejos dos personagens.Porém, sua seqüência mais impressionante, sem dúvida, é a que os "amantes" dividem a fumaça do cigarro por entre o buraco na parede das celas. Difícil encontrar algo tão expressivo para representar os imperativos de um desejo não concretizado. Algo evocativo de uma célebre seqüência de L´Atalante de Vigo, ainda que aqui unindo uma materialidade corpórea a sua poesia. Porém a imagem recorrente que mais expressa essa impossibilidade do desejo é a do ramalhete de flores que um prisioneiro tenta passar para o outro. No final,no entanto,o ramalhete consegue ser entregue, logo após a saída do guarda, algo que não apenas enfatiza uma evidente vitória do amor sobre a repressão quanto o quão essa vitória é ambígua, no sentido de que dada a ordem não necessariamente linear da narrativa, ninguém pode afirmar com completa segurança que se trata do desfecho do mesmo. Outra imagem bastante forte, próxima ao final, é do guarda fazendo com o prisioneiro que tortura ponha seu revólver na boca, de dimensões homo-eróticas ainda mais evidentes do que a própria situação em si, pela demonstração de prazer quase orgasmática na face do mesmo. A bela fotografia é do próprio Genet. É tido como tendo influenciado Andy Warhol, tanto pelo fato de originalmente ser mudo, como boa parte do que foi filmado por Warhol, quanto por sua atração por um mundo marginal paralelo ao das convenções sociais. 26 minutos.


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