The Film Handbook#124: Ida Lupino


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Ida Lupino
Nascimento: 04/02/1918, Herne Hill, Reino Unido
Morte: 03/08/1995, Los Angeles, Califórnia
Carreira (como diretor): 1950-1966

Mais conhecida como atriz versátil, tendo sido frequentemente utilizada enquanto mulher franca e independente, Ida Lupino foi a única diretora mulher digna de nota a trabalhar em Hollywood entre o apogeu de Dorothy Arzner, nos anos 30 e os 70, quando um punhado de mulheres, presumivelmente inspiradas pelo feminismo, passou a dirigir.

A filha do comediante Stanley Lupino e da atriz Connie Emerald, Lupino apareceu pela primeira vez no cinema quando adolescente, enquanto estudava interpretação na RADA londrina. Em 1933 ganhou um contrato de Hollywood com a Paramount, onde se tornou conhecida na Warner. Inesquecivelmente em Seu Último Refúgio/High Sierra de Walsh, Cinzas Que Queimam/On Dangerous Ground de Nicholas Ray e A Grande Chantagem/The Big Knife de Aldrich.  Em 1949, com o então marido Collier Young, formou sua própria companhia produtora e voltou-se para a direção e roteirização, frequentemente lidando com a condição difícil das mulheres.

Após roteirizar e assumir a direção de Not Wanted - sobre as experiências de uma mulher não casada - quando Elmer Clifton adoeceu, realizou mais propriamente sua estreia com Quem Ama Não Teme/Never Fear, história da batalha de uma bailarina contra a pólio. De forma mais controversa, ela analisava em O Mundo é Culpado/Outrage os devastadores efeitos emocionais e psicológicos do estupro, enquanto Laços de Sangue/Hard, Fast and Beautiful focava no relacionamento de uma garota e sua mãe ambiciosa e dominadora que a empurra para o circuito de tênis. Tais melodramas, notáveis por seus temas pouco comuns e boas intenções, foram seguidos, ainda mais surpreendentemente, por O Mundo Odeia-me/The Hitch Hiker>1, um filme de ação B notavelmente tenso e atmosférico no qual uma dupla de complacentes homens de negócios retornam de uma caçada, descobrindo que o homem que eles trouxeram do deserto é um psicopata. Lupino extrai da trama toda a sua riqueza, habilmente expandido os personagens, e fazendo uso soberbo das duras locações, destacando temores agorafóbicos e transformando o dilema dos desafortunados motoristas em um primitivo esforço por sobrevivência. Essa pequena obra prima da contenção (tanto em termos de orçamento quanto de duração) foi seguido por um bastante diferente, mas igualmente impressionante O Bígamo/The Bigamist>2, sensível história de um caixeiro viajante que se casa duas vezes. O que distingue o filme, além das notáveis interpretações e evocação nada glamorosa da vida de trabalhadores, é a compaixão com a qual Lupino observa seus personagens: o homem não é um insensível don juan mas um indivíduo problemático e tolo, cujas ações derivam da solidão. De forma crucial, Lupino escolhe para encarnar as esposas alguém fora do perfil habitual, com a habitualmente tímida Joan Fontaine como a forte oportunista e arrivista e ela própria como uma tímida e pacata dona de casa. De fato, o tratamento, de uma profundidade emocional, de uma questão frequentemente tabu, é notável tanto por seu equilíbrio e pela compreensão que o amor por mais de uma pessoa é, ao mesmo tempo, doloroso e comum.

Nos anos seguintes, Lupino focou em dirigir para a televisão e atuar, realizando somente mais um filme - a comédia que se passa em um convento Anjos Rebeldes/The Trouble with Angels, memorável somente por seu estranho elenco integralmente feminino com Rosalind Russell como a Madre Superiora. Diversas de suas interpretações, como a de Dez Segundos de Perigo/Junior Bonner de Peckinpah, exibiam um espírito independente como o dela na vida real. Os filmes que ela realizou são obras menores, mas notáveis pela inteligência, coragem e uma sensibilidade para com as vidas emocionais das pessoas; hoje poucos vistos, merecem uma reavaliação - particularmente à luz da recente teoria feminista.

Cronologia
É tentador, senão óbvio, comparar os filmes de Lupino com os de Dorothy Arzner. Lupino, talvez devido ao seu trabalho com gosto de Walsh e Wellman, parece mais dura. Diretoras modernas que parecem igualmente determinadas a trabalhar em um cinema comercial mais que vanguardista incluem Amy Jones, Susan Seidelman, Martha Coolidge, Donna Dietch, Marisa e Joan Micklin Silver, e Penolope Spheeris.

Destaques
1. O Mundo Odeia-me, EUA, 1953 c/Edmond O'Brien, Frank Lovejoy, William Talman

2. O Bígamo, EUA, 1953, Edmond O'Brien, Joan Fontaine, Lupino

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 179-80

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