Filme do Dia: Brazil: A Report on Torture (1971), Saul Landau & Haskell Wexler
Brazil: A Report on Torture (Estados
Unidos, 1971). Direção: Saul Landau & Haskell Wexler. Montagem: Robert
Estrin.
Esse documentário é um dos poucos
registros de época de membros da luta armada brasileira, exilados no Chile após
terem sido libertos em troca do embaixador seqüestrado norte-americano Charles
Elbrick, evocando ou exibindo as diversas formas de tortura que sofreram quando
presos no Brasil. O que mais surpreende no tom dos depoimentos é a relativa
altivez ou pelo menos ausência da emoção explícita – em nenhum momento o filme
flagra nenhum dos depoentes chorando, como se Wexler houvesse concordado com
Godard sobre a obscenidade de se flagar
alguém em um momento de fragilidade emocional. E igualmente o modo
relativamente aberto sobre como todos falam de tudo, diante de uma câmera, dada
a presunção de reserva e desconfiança paranoica que geralmente é associada com
ex-vítimas de tortura. Tampouco existe qualquer referência direta ao “imperialismo
americano” ou qualquer possível conivência norte-americana não apenas com o
golpe como com as práticas de tortura. Se ela esteve presente no discurso de
algum dos depoentes, algo talvez pouco provável, dado o tom geral que parece
ser simpático a uma divulgação do que estava sendo praticado no momento para o
maior público possível, foi limada na edição; sendo a única referência presente
ao maior objeto de contestação interna do próprio governo norte-americano, a
Guerra do Vietnã. A objetividade com que tudo é retratado, inclusive na
descrição dos mecanismos de tortura, muito mais variados do que os mais
conhecidos como o “pau de arara”, bem que poderia servir como modelo para
alguma proposta mais ousada de abordagem dramática do período no âmbito ficcional.
Pode-se até se indagar sobre a lógica perversa que faz com que os ex-vitimados pela tortura se tornem quase
torturadores de seus “modelos” e um deles reflete sobre isso, porém o desejo de
publicização vai além do mal-estar de rever tais situações e se tornar
imperativo para a proposta de representação. Para muitos, senão todos, em sua
maior parte extremamenet jovens, mesmos utilizando uma forma verbal associada
ao passado quando fala de suas atitudes de assistência aos mais pobres (a entrevistada,
no caso, encontra-se ironicamente em meio a uma favela chilena) através da
medicina e da educação, a luta contra o regime e mesmo a perspectiva de
revolução se encontra longe de ser dada como perdida. Traz, entre os depoentes,
uma das ramas imagens do Frei Tito, que seria cinebiografado décadas após (Batismo de Sangue). 60
minutos.
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