Filme do Dia: As Chuvas de Ranchipur (1955), Jean Negulesco
As Chuvas de Ranchipur (The Rains of Ranchipur, EUA, 1955). Direção:
Jean Negulesco. Rot. Adaptado: Merle Miller, baseado no romance The Rains Came, de Louis Bromfield.
Fotografia: Milton R. Krasner. Música: Hugo Friedhofer. Montagem: Dorothy
Spencer. Dir. de arte: Addison Hehr & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Paul S.
Fox & Walter M. Scott. Figurinos: Helen Rose & Travilla. Com: Lana Turner,
Richard Burton, Fred MacMurray, Joan Caulfield, Michael Rennie, Eugenie
Leontovich, Gladys Hurlbut, Madge Kennedy, Carlo Rizzo.
Lady
Edwina Esketh (Turner) é uma milionária entediada que viaja com o marido-objeto
Albert (Rennie), colecionando amantes em cada cidade pela qual passa. Na Índia,
convidada pela maior autoridade local, Maharani (Leontovich) a se hospedar em
seu palácio, apaixona-se pelo filho da mesma, o íntegro e puro Dr. Safti
(Burton). Um conflito é criado, pois Tom Ransome (MacMurray), bastante
conhecedor do passado de Edwina, e Maharani opõe-se radicalmente ao
envolvimento de Safti com uma mulher de “reputação duvidosa”. O auge do
conflito é diluído por uma chuva torrencial que provoca incalculáveis danos
materiais e humanos ao vilarejo. Enquanto Ransome, deixa de lado seu cinismo
tradicional e volta a se apaixonar, pela jovem Fern Simon (Caulfield), Edwina
decide abandonar o país com o marido, não sem antes ter um último enfrentamento
com Maharina.
Talvez
seja mais interessante pensar esse filme de Negulesco, habitual realizador de
películas escapistas de amor em cenários estrangeiros, adicionando um colorido
local e folclorizante, realçado pela fotografia habitualmente extravagante e
direção de arte esmerada, como aliás toda sua profícua produção do período, em
termos da contraposição entre o elemento americano em relação aos
“estrangeiros”. É o que ocorre igualmente em filmes como A Fonte dos Desejos (1954), Papai Pernilongo (1955) e A Lenda da
Estátua Nua (1957), ambientados respectivamente na Itália, França e Grécia.
Nesse sentido, não deixa de ser digno de nota que a representação do
estrangeiro é sempre de alguém mais “puro” e menos corrompido por um senso de
cosmopolitismo, porém vitimizado dentro da opressão de uma cultura tradicional
de um modo ou de outro, que torna-se “redimido” de seus erros, cometidos por
sua ingenuidade, através da conveniente ajuda de um herói – no caso aqui,
heroína – americano(a). Calcado na lógica mais estreita do melodrama, com
direito a uma interferência da própria Providência nos rumos do conflito
(tentativa subliminar de fazer uma referência discreta aos próprios melodramas
indianos contemporâneos) e longas seqüências de destruição de monumentos e
prédios com o uso de maquetes, efeitos que hoje soam precários, o filme ainda
consegue construir aqui uma heroína mais ambígua que o habitual. Porém, não
deixa de evidentemente polir o personagem, no sentido de que a mulher promíscua
e voluntariosa não apenas se apaixona de verdade como – e mais importante – salva
seu reprimido amado do jugo da mãe possessiva e autoritária. É quase cristalina
a mensagem política subliminar de uma América libertando os jovens dos países
de cultura inflexível de seus dogmas herdados pela tradição. Porém, uma leitura
ainda mais subliminar pode ser efetivada, à parte dos interesses do realizador,
de uma América gulosa em conquistar aos poucos o mundo, quando se observa na
seqüência final a protagonista novamente repetindo os mesmos maneirismos de sua
relação destituída de qualquer sentimento com seu marido de “conveniência”,
como se tivesse apenas vivido mais uma etapa de sua tarefa. Fica evidente que
os atores não participaram das filmagens em locação, sobretudo numa seqüência
que faz uso do casal de amantes com um plano de fundo com imagens captadas em
externas. Uma versão cinematográfica do romance, E as Chuvas Chegaram, já havia sido lançada em 1939 com direção de
Clarence Brown, sendo Mirna Loy e Tyrone Power o par central. 20th Century-Fox.
104 minutos.
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