Filme do Dia: O Longo Caminho para Casa (1997), Mark Jonathan Harris
O Longo Caminho para Casa (The Long
Way Home, EUA, 1997). Direção e Rot. Original: Mark Jonathan Harris. Fotografia: Don Lenzer. Música: Lee Holdridge. Montagem: Kate Amend.
Uma exaustiva compilação de imagens que cobre o período
que vai do final da Segunda Guerra Mundial até o reconhecimento do estado de
Israel em 1948 pela ONU. Talvez a sua
maior virtude seja se deter sobre aspectos históricos hoje pouco lembrados como
o do empecilho que o governo britânico criou para a emigração dos refugiados
políticos judeus para a Palestina e, ainda mais, a existência dos campos do
exército americano na Alemanha, que com suas políticas de militarização, eram
uma continuidade atenuada do atentado contra os direitos humanos que
representaram os campos nazistas. Contendo depoimentos de ex-prisioneiros
judeus o filme, com seu olhar retrospectivo, constrói com a paradoxal solidez
das grandes narrativas, a própria trajetória que justifica a nação israelense
hoje. Logicamente fica de fora quase tudo que não se enquadre ao mito nacional
israelense, com uma exceção - a da
colaboração de muitos judeus com os nazistas – que apenas confirma a regra. A
utopia da criação de uma nação com pessoas provenientes de mais de cinqüenta
nacionalidades, por exemplo, é encarada sem maiores percalços, em mais de um
momento, com cenas que apresentam a convivência idílica entre gente de costumes
e histórias de vida tão diversas, dançando alegremente. Da mesma forma os
judeus quase sempre surgem como vítimas do terrorismo árabe, embora nada
obviamente seja dito sobre a longa tradição de afinidade eletiva da cultura
árabe para com a mesma região. Na única
vez que surgem como provocadores do terrorismo – a explosão de um hotel em que
se alojavam sobretudo membros do exército britânico – a coisa toda ganha outra
dimensão, já que para atenuar a imagem dos feridos sendo retirados dos
escombros existe simultaneamente o narrador (Morgan Freeman) a nos fazer
cientes de que tal ato foi que provocou um reviravolta na política britânica
com relação a questão judaica. Curiosamente os depoimentos de ex-prisioneiros,
dos quais muitos hoje são líderes de organizações sionistas da sociedade civil,
parecem ser menos apaixonadamente ideológicos que o corpo narrativo maior do
documentário, apoiado por comentário e trilha sonora extremamentes
manipulativas à nível emocional. Como Hitler já se encontrava morto no período
que começa a ser objeto de discussão, os vilões passam a ser, entre outros, o
general Patton e o primeiro-ministro
britânico Attlee, com suas políticas de não incentivo a abertura de Israel para
os refugiados políticos. O herói, obviamente, é David Ben Gurion, o pai da
nação judaica, que aparece emocionado incensando um grupo de refugiados
políticos a terem paciência até o dia em que conseguiriam permissão para
partirem rumo à Israel. À parte as farpas dirigidas contra a política inicial
americana, contrária aos interesses sionistas de liberdade para os refugiados
políticos, provavelmente para não ferir sua aliança com a Inglaterra, logo se
acentua a importância inquestionável que representou os EUA para a aceitação do
novo Estado pela comunidade internacional. Entre os bons momentos se encontra o
que aborda a pouca sensibilidade ou o aberto antagonismo com que os judeus são
recebidos nos EUA e na Europa Oriental. Ou ainda os casamentos apressados entre
ex-prisioneiros sem mais nenhum membro da família vivo. Um dos maiores
incômodos que proporciona o filme é justamente o de acompanhar a criação de um
tipo ideal tão interpridamente emancipador na figura do povo judeu, como Marx
fizera com sua idealização do proletariado. Aliás, cumpre lembrar uma cena em
que os judeus ameaçados no navio que se dirige para Israel aparecem tão altivos
quanto os marinheiros do Encouraçado
Potemkin (1925), de Eisenstein. Da mesma forma soa muitas vezes como
irritante um certo tom de vitimização que parece dividir o espectro político
dos envolvidos entre os agentes da boa e da má consciência, havendo um
verdadeiro gozo em se denunciar os últimos na figura da Igreja Católica, que
influiu para que a política latino-americana se proclamasse contrária a
legalização do estado judeu ou do já citado Patton. Resta aplicar, de forma
igualmente convincente, a mesma lógica
para a própria política interna israelense. Moriah Films/The Simon Wiesenthal Center. 120
minutos.
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