Filme do Dia: Panelkapcsolat (1982), Béla Tarr
Panelkapcsolat (Hungria, 1982). Direção e
Rot. Original: Béla Tarr. Fotografia: Barna Mihóc & Ferenc Pap. Montagem:
Agnes Hrinatzky. Figurinos: Tamás Breier. Com: Judit Pogány, Róbert Koltai,
Kyri Ambrus, Gabus P. Koltai, Józsefné Sothó, András Udvarhelyi, Làszlo Varga,
Istvanne Szabó.
A dificuldade na
relação entre uma mulher, Feléseg (Pogány) e um homem, Férj (Koltai), ele
técnico qualificado, ela dona de casa, para manter sua união. Enquanto Feléseg busca
exaustivamente uma postura mais participativa do marido na criação dos filhos
esse tem rompantes ocasionais de abandonar a família, seja para trabalhar em
outro país e ascender profissional e socialmente, seja simplesmente por não aguentar
tamanha pressão.
Esse primeiro filme
de Tarr realizado com elenco profissional, ainda assim guarda fortemente uma
perspectiva quase documental em que o realizador se deterá sobre o drama do
casal. Com uma produção extremamente ascética e não fazendo uso de qualquer
trilha sonora, Tarr não reproduz na forma, ou melhor, não espetaculariza o
drama retratado. Ao contrário de um cinema de espetáculo, não há espaço para
qualquer tipo de identificação fácil com os personagens. O que Tarr parece se
aproximar, de modo emocionalmente distanciado, são de “flagrantes” de momentos
diversos da situação entre o casal em que tem fundamental importância a
dinâmica de um processo social, por mais banal que seja, como um evento social
com amigos (dos quais não temos menor acesso de quem sejam ou sua relação
precisa com o casal), vários momentos de tensão, um momento de lazer, a compra
de uma máquina de lavar, etc. O momento, representado por sua ênfase em longos
planos e numa aderência por inteiro ao que ocorre na sequência em questão, mas
do que qualquer pretensão de explicitação
do antes ou depois, talvez seja a maior força do filme. É exatamente
através dessa utilização, associada a momentos banais da vida cotidiana, e o
uso do flashback ao início como modo de reiteração da relação claustrofóbica e
neurótica em que se ambienta a família. O que talvez torne secundário se
imaginar que a sequência que fecha o filme segue ou não uma lógica temporal
convencional, podendo tratar-se na verdade, de uma ironia, fechando com um
final relativamente “feliz”, dentro das possibilidades do casal - sobretudo da
esposa – mas que diz respeito a um período passado na vida de ambos. O tom de
realismo documental que o filme se insere parece antecipar uma dramaturgia como
a do Dogma-95, ainda que aqui o
realizador pareça se encontrar menos disposto a abrir maiores concessões que os
diretores nórdicos, em que a dimensão da interpretação do elenco ainda parece
bem mais empostada e convencional. Béla Balász Stúdió/Mafilm/MTV-FMS/Társulás
Stúdió. 84 minutos.
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