Filme do Dia: A Caminho de Kandahar (2001), Mohsen Makhmalbaf
A Caminho de
Kandahar (Safar e Ghandehar,
Irã/França, 2001). Direção e Rot. Original: Mohsen Makhmalbaf. Fotografia: Ebrahin
Gafori. Música: Mohammed Reza Darvishi. Montagem: Mohsen Makhmalbaf. Dir. de
arte: Akbar Meshkini. Com: Niloufar Pazira, Hassan Tantai, Sadou Teymouri.
Após receber
uma mensagem da irmã de que pretende suicidar-se no próximo eclipse lunar, por
não mais aguentar as condições de opressão no Afeganistão, a jovem jornalista
Nafas (Pazira) retorna do Canadá para reencontrar a irmã, que vive em Kandahar.
Ao pegar uma carona de um helicóptero da Cruz Vermelha, atravessa a fronteira
com um grupo, que é assaltado e decide retornar para o Irã. O jovem Khak
(Teymouri), recém-expulso da escola por não recitar o corão adequadamente, serve
de guia para Nafas. Adoecida com a água que bebeu, Nafas vai se consultar com o
médico local, Tabib Sahid (Tantai), que recomenda que ela se desfaça do guia.
Com Sahid ela vai até um posto médico, onde um grupo de afegãos mutilado espera
por próteses que são jogadas por um helicóptero. Quando retorna com Sahid,
encontram um homem que demonstra disposição de levá-la para Kandahar, por 250
dólares. São barrados como suspeitos no meio do caminho, quando acompanham um
grupo que leva uma noiva para a cerimônia de casamento.
Essa obra que
possui um forte tom documental (principalmente nas sequências iniciais, em que
a protagonista narra com mais freqüência o que observa para um gravador, assim
como no próprio estilo câmera na mão),
também não se esquiva em apresentar imagens de extrema poesia, algumas vezes
beirando o surreal – como, por exemplo, nas imagens das próteses sendo jogadas
do céu e descendo lentamente em para-quedas. Makhmalbaf apresenta ainda outras
peculiaridades de um cotidiano sobre um regime teocrático: uma escola onde os
garotos mesclam a leitura do corão com as virtudes dos armamentos que levam
consigo; as consultas médicas que são realizadas através de um pequeno buraco
de uma lona. Assim como alguns mecanismos para tentar burlar a onipresença do
regime talibã, como a mulher que põe batom por baixo da burca ou o segundo guia
de Nafas, que se traja de mulher. Mesmo em um cenário tão desolador – logo no
início Khak retira um anel de um esqueleto que posteriormente fará questão de
deixar com Nafas – Makhmalbaf não deixa de mesclar o drama com momentos
cômicos, como na seqüência em que um homem se encontra descontente com a
prótese que foi feita para sua esposa. O final, que trunca com as expectativas
de sabermos se a empreitada de Nafas foi ou não bem sucedida, ao apresentar uma
bela imagem de um pôr-do-sol sob o ponto de vista da burca da protagonista,
pode ser compreendido tanto como uma recusa a seguir o modelo da narrativa
tradicional, com seu final típico, seja feliz ou infeliz ou, menos
provavelmente, como uma impossibilidade de finalização do filme como proposto,
seja por motivos financeiros ou políticos. Uma de suas fraquezas é apresentar
alguns monólogos da protagonista, geralmente versando sobre preocupações com a
irmã, que soam pouco convincentes. Uma polêmica após o lançamento do filme: o
ator que vive o personagem do médico negro americano Tabib Sahid foi acusado de
ter assassinado um compatriota iraniano nos EUA em 1980. Prêmio Ecumênico no
Festival de Cannes. Bac Films/Makhmalbaf Film House/Studio Canal. 85 minutos.
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