Filme do Dia: Scorpio Nights (1985), Peque Gallaga
scorpio Nights (Filipinas, 1985). Direção:
Peque Gallaga. Rot. Adaptado: Uro Q. dela Cruz, baseado nos contos de Rommel
Bernadino & T.E. Pagaspas. Fotografia: Ely Cruz. Música: Jaime Fabregas.
Montagem: Jess Navarro. Dir. de arte: Don Escudero & Rommel Bernadino. Cenografia:
Melchor Pacheco. Figurinos: Denni Tan. Com: Orestes Ojeda, Anna Marie
Gutierrez, Daniel Fernando, Eugenio Enirquez, Amanda Amores, Mike Austria, Pen
Medina, Uro Q. dela Cruz, Caloy Balasbas.
Em um cortiço onde
as pessoas possuem pouca ou nenhuma privacidade, o jovem Danny (Fernando) deixa
de ser um mero voyeur da vizinha de baixo, mulher (Gutierrez) de um segurança
(Ojeda) e, certo dia, cria coragem e vai até seu quarto, fazendo sexo com ela.
Em dúvida se ela estava adormecida ou não, quando se retira de uma segunda vez,
acaba sendo chamado por ela. Iniciam então uma tórrida relação às escondidas,
mesmo depois de Danny ter firmado namoro com outra garota do cortiço. Fely
(Amores). Certa noite, no entanto, o vigilante os flagra na cama e os mata, cometendo
suicídio logo após.
Tido como o
detonador do cinema erótico filipino, este filme de Gallaga consegue
transcender em muito as superficiais semelhanças que possa guardar com a
produção erótica do cinema brasileiro da década anterior. Mesmo que o voyeurismo
e a facilidade com que os corpos se desnudam, assim como o ambiente popular,
além da precariedade técnica, possam sugerir uma aproximação com a nossa
pornochanchada, nada mais equivocado. A
precariedade técnica aqui se alia com o ambiente semelhante descrito com
grande competência graças a presença de um estilo relativamente seguro, cuja
dimensão de voyeurismo se faz presente não apenas na função de duplo do desejo
do protagonista, como em cenas em que tudo é observado como que de soslaio pelo
próprio narrador – aproximando-se, nessa estratégia, dos dramas de Fassbinder.
Ao contrário da produção nacional, mesmo que seja até mais ousado nas cenas de
nudez e sexo, não apela para o escracho, para o estereótipo e para o humor
fácil e preconceituoso daquela e igualmente acaba cumprindo com sua função
erótica, muitas vezes com requintes de originalidade, como no momento em que o
contato entre os amantes é feito através do mero toque de suas mãos através do
buraco no qual Danny a espiava. No caso da estereotipia nem o marido traído,
nem o jovem onanista (como assim é descrito logo ao início do filme), nem a
mulher fogosa ou o homossexual que vivencia um dos personagens secundários são
julgados moralmente, como se pode pensar à princípio, afastando-se, portanto,
de sua base naturalista literária, mesmo sem necessitar para tanto de um
aprofundamento psicológico dos personagens (da mulher e de seu marido, por
exemplo, nem ao menos temos acesso aos nomes). O modo como possui uma dimensão
dramática bem encorpada e a própria elaboração de um senso de ritmo e de
suspense são outros atributos dessa produção, que teria uma continuidade
temporã, dirigida pelo mesmo realizador, em 1999. Destaque para o curioso
personagem de Elton, que passa o dia a dedilhar ao violão pérolas do
cancioneiro pop anglo-saxão como The
Boxer e Skyline Pidgeon. Uma
curiosidade é o uso bastante incomum, com relação ao espectro do filme como um
todo, da câmera lenta como recurso “poético”, que se torna mais um aliado,
mesmo que involuntário, a provocar um efeito de estranhamento. Regal Films.
126 minutos.
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