Filme do Dia: Das Wandernde Bild (1920), Fritz Lang
Das
Wandernde Bild (Alemanha, 1920). Direção: Fritz Lang. Rot. Original: Fritz Lang
& Thea Von Harbou. Fotografia: Guido Seeber. Dir. de arte: Otto
Hunte. Com: Mia May, Hans Marr, Rudolf Klein-Rogge, Loni Nest, Harry Frank.
Irmgard (May) possui uma relação com o
filósofo radical George Vanderheit (Marr). O mesmo simula a própria morte para
escapar obrigações sociais inevitáveis.
Irmgard foge do atual marido e se refugia nos Alpes com seu filho. Ela é
perseguida pelo irmão do que acreditam falecido, John (Marr)
Se as poses fatalistas e a vitimização da
heroína não parecem muito distantes do universo de Griffith na Biograph e o
tema aventuresco e dado a coincidências intensamente melodramáticas, calcado
igualmente no caráter pretensamente “exótico” de suas locações trazem,
guardadas as devidas comparações, algo não muito distante do que Humberto Mauro
tentará empreender no Brasil alguns anos após, não se pode negar a enorme
fluência dessa produção, tida como perdida por longo tempo, até ser descoberta
uma versão com cartelas em português remanescente na Cinemateca Brasileira.
Curiosamente o flashback que adentra a narrativa, quando quase um terço do
filme já se apresenta, não é motivado por nenhum personagem, tal como seria
habitual no cinema clássico, deixando patente o desejo de se especificar os
laços que unem a protagonista a seu “salvador” de muito antes do momento em que
essa se inicia. Noutro momento, ele surge motivado por uma lembrança da
heroína, referente ao fato dela acreditar que seu amado se encontra de fato
morto. Destaque para o preciosismo da versão brasileira que já faz uso do
recurso, posteriormente bastante comum, de traduzir no plano da imagem,
inclusive páginas de jornal – e com relativo cuidado – do original. Também aqui
já se prenuncia o gosto por lendas com laivos de fantasia extremada, embora de
forma bem mais secundária que em produções posteriores como Os Nibelungos, como é o caso da
recorrente mitologia a respeito dos sinos a anunciarem a morte num efeito de antecipação mórbida do destino similar – e
evidentemente mais dilatado – que as sombras nos filmes expressionistas. É
impressionante a quantidade de tempo dispendida no que poderia ser percebida
como uma ação climática final bem antes do tempo, o fato do casal se
“reencontrar” numa situação iminente de risco de morte, que consegue ser
explorada dramaticamente a contento com o recurso aos flashbacks, com tudo
inclusive parecendo ser resolvido, vilão morto, etc. A aproximação de Irmgard
com a figura da Virgem Maria não se dá apenas no plano de suas ações
caritativas, mas igualmente na sua ilustração com agasalhos e uma criança a
ninar, bastante próxima da imagem da Virgem observada em diversos momentos do
filme, chegando a ser confundida como tal por seu amado. Klein-Rogge é um dos
atores mais relevantes da cinematografia de Weimar e do próprio Lang (Mabuse, Metropolis) Se a ação rocambolesca e os dois irmãos
interpretados pelo mesmo ator já não ajudam exatamente na compreensão dos
eventos da trama, a ausência de 22 minutos de sua metragem original é um dado
crucial no seu caráter lacunar. May-Film para UFA. 45 minutos.
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