Filme do Dia: Il Testimone (1946), Pietro Germi
Il Testimone
(Itália, 1946). Direção: Pietro Germi. Rot. Original: Ottavio Alessi, Diego
Farmi, Pietro Germi, Enrico Ribulsi & Cesare Zavattini, sob argumento de
Germi. Fotografia: Aldo Tonti. Música: Enzo Masetti. Montagem: Gisa Radicchi
Levi. Dir. de arte: Salvo D’Angelo & Aldo Tommasini. Com: Roldano Lupi,
Marina Berti, Ernesto Almirante, Sandro Ruffini, Petr Sharov, Arnoldo Foà,
Cesare Fantoni, Dino Maronetto.
Condenado a morte por assassinato, Pietro Scotti (Lupi) conhece Andrea
(Maronetto), que lhe fala sobre uma garota sempre sorridente que trabalha em um
bar próximo de um rio. Scotti é inocentado, após o testemunha-chave para sua
condenação, o servidor público Giuseppe Marchi (Almirante), encontrar-se em
dúvida e achar demasiado peso levar um homem a morte sem se encontrar
completamente certo. Pietro vai até o bar falado por Andrea e conhece Linda
(Berti) que, ao contrário do que falara Andrea, nunca sorri. Ela sai da casa do
rude dono do bar (Fantoni) e vai viver com Pietro. Quando vão resolver a
documentação sobre o casamento, o funcionário responsável é ninguém menos que
Guiuseppe, que passa a se aproximar do casal, mesmo com toda a hostilidade de
Pietro, descobrindo ser Pietro culpado. Ele marca encontro com Linda, mas quem vai
é Pietro que, incomodado, decide matar Giuseppe, encontrando-o morto quando
chega na pensão na qual morava. Impressionado com o estranho rumo que os
acontecimentos tomaram, Pietro, que de tempos já sente a tensão de Linda,
confessa ser assassino e decide se entregar, contra a vontade dessa.
Primeiro dos 19 títulos dirigidos por Germi, o filme impressiona
sobretudo pela segura direção de atores, com destaque para o trio central,
Lupi, Berti e Almirante, e para o seu tom de fábula moral que remete, em alguma
medida, a mais sofisticada obra de um Robert Bresson ou, posteriormente,
Kieslowski (Não Matarás). Embora
seja impossível não associá-lo com a produção neo-realista contemporânea, como
o uso intenso de locações, o filme apresenta ao menos três diferenciais dignos
de nota. Primeiro, sua evidente vinculação a códigos de filmes de gênero, no
caso em questão aqui suspense, parecendo
ser o filme uma resposta a tramas semelhantes produzidas pelo cinema noir americano, numa proximidade maior
do que a presente na obra de um Antonioni (Crimes d’Alma), característica que será uma marca registrada na filmografia do
realizador. Depois, por apresentar um estilo cinematográfico bastante
auto-consciente, como nos belos e recorrentes planos-contraplanos em corte seco
e rápido, que descrevem o único diálogo vivido por Pietro e Andrea. Por fim,
pelo centramento no psicologismo de seus personagens, em primeiríssimo plano em
relação ao contexto social no qual a narrativa é emoldurada, como motor que dá
movimento a história. Seu prólogo documental, com narração over, outra marca presente em suas produções do período, aponta
para a proximidade física em direta relação com o distanciamento provocado pelo
individualismo nas grandes cidades. Mesmo que esse argumento possa soar
relativamente canhestro para a ação que se segue, é interessante o modo como o
filme não se ocupa do caso do assassinato em si próprio, apenas observando o
produto do mesmo, a grande quantia de dinheiro que Pietro carrega consigo e,
como Hitchcock, extrai o seu suspense do descompasso entre o desconhecimento
dos personagens com relação a culpa de Pietro, que para o espectador parece se
encontrar patente desde o primeiro momento, em que ele se assusta com a chegada
de Giuseppe a corte. Dentre outros males que parecem um tanto deslocados em sua
crítica da modernidade, Germi se detém sobre a absurda burocratização que
acompanha o pedido de casamento de Pietro. A singela beleza de Marina Berti é
explorada aqui de forma praticamente inédita em relação as varias produções do
período que participou. Lupi terá uma atuação tão ou mais memorável em O Delito, dirigido por Alberto Lattuada
no ano seguinte. Destaque para o uso
intensivo de projeção ao fundo para a seqüência em que o casal vivencia seu
idílio amoroso inicial no rio, que destoa do restante do filme e o aproxima de
Hollywood. Orbis Film para CEIAD. 98 minutos.
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