Filme do Dia: Papa (2004), Vladimir Mashkov
Papa (Rússia,
2004). Direção: Vladimir Mashkov. Rot. Adaptado: Vladimir Mashkov & Ilya
Rubinstein, a partir da peça Matrosskaya
Tishina, de Alesandr Galich. Fotografia: Oleg Dobronrarov. Música: Dimitri
Atomvyan. Montagem: Vera Klugova. Dir. de arte: Vladimir Aronin. Figurinos:
Regina Khomskaya. Com: Egor Beroev, Vladimr Mashkov, Andrei Rozendent, Olga
Krasko, Lidyia Pakhomova, Kseniya Bespalova, Sergei Dontsov, Kseniya Glinka.
Quando garoto, David Schwartz (Rozendent) sofre com a disciplina
rígida e o alcoolismo paternos, que fazem com que ele, em situações extremas,
chegue a ser vítima de suas agressões. Seu pai, Abraham (Mashkov) é um judeu
que trabalha na ferrovia e que sonha um dia em conhecer Jerusalém. Quando jovem
adulto, Schwartz (Beroev) se torna o mais promissor violinista do Conservatório
de Música de Moscou. Abraham vai visita-lo de surpresa e é destratado pelo
filho, que sente-se envergonhado pela presença do pai, e seu jeito simples e
provinciano, diante de seus novos colegas e do diretor do Conservatório. Tempos
depois, seu pai, assim como toda a comunidade do gueto no qual viviam, são
massacrados. E ele, em vias de ter a mão amputada, possui um diálogo cheio de
remorsos com o pai morto.
Seria cruel sequer a menção comparativa com o
contemporâneo-conterrâneo Pai e Filho.
Os expedientes dramáticos aqui empregados são não apenas constrangedores como
francamente indecorosos em sua acepção melodramática menos inventiva e mais
lugar-comum. O mesmo se aplicando para seu tratamento visual, tão acadêmico e
pouco original quanto aqueles. Do uso da grua à sua pouca convincente evocação
cenográfica do passado tudo acaba se dirigindo para a conservadora e tacanha
compreensão da relação entre pai e filho pontuada por uma sentimentalidade lacrimosa
e resultando em um “conveniente” final no qual David “purga” por sua rejeição
ao pai ao ter o braço, assim como sua promissora carreira, devidamente
amputados. Resta porém o consolo dado pelo espectro paterno, entrevisto em seu
delírio, de que seu filho poderá atingir o sonho almejado um dia pelo avô,
transferindo uma continuidade de frustrações e expectativas para uma terceira
geração, que felizmente não chega a ser entrevista pelo filme. A figura de
Stálin se reflete, entre autoritária e paternalista, no chefe do conservatório,
sendo a subtrama do amigo de David que fora expulso por conta das convicções
políticas de seu pai, tão rapidamente esquecida quanto surgiu. Mashkov, mais
conhecido como ator, dirigiu apenas dois filmes, e evidentemente dignou para si
próprio, o papel do pai “que bate, mas ama”, vivendo-o do modo mais
intensamente patético que pode, sendo que já vivenciara o mesmo personagem na
peça que serviu como base para o filme. Kompanija
TransMashHolding/NTV-Profit/OAO Rosijskie Kommonalnie Sistemi/Produserskaya
Firma Igorja Tolstunova/Sluzba Kinmatographii Rossijskoy Federats para Nashe
Kino. 94 minutos.
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