Filme do Dia: Alô, Alô Carnaval (1936), Adhemar Gonzaga

Alô, Alô Carnaval (Brasil, 1936). Direção: Adhemar Gonzaga. Rot. Original: Ruy Costa & Adhemar Gonzaga, a partir do argumento de Alberto Ribeiro & João de Barro. Fotografia: Edgar Brasil, Victor Ciacchi & Antonio Medeiros. Montagem: A.P. Castro, Ruy Costa, Moacyr Fenelon & Adhemar Gonzaga. Dir. de arte: J. Carlos, Emílio Cazalegno & Ruy Costa. Com: Jaime Costa, Barbosa Júnior, Pinto Filho, Oscarito, Lelita Rosa, Almirante, Francisco Alves, Lamartine Babo, Carmen Miranda, Aurora Miranda, Dircinha Batista, Alzirinha Camargo, Mário Reis, Rosina Pagã, Elvira Pagã
Dois autores (Barbosa Jr. e Pinto Filho) de uma revista musical não conseguem apoio financeiro para montar o espetáculo. O empresário (Costa) de um cassino que os havia esnobado anteriormente, os chama a contragosto para suprir uma eventual lacuna em sua programação.
Constrangedoramente amador seja em termos de elaboração dos planos – sem a menor noção de continuidade e de corte – ou na disposição dos astros, demasiado constrangidos e mesmo visivelmente nervosos (como é o caso das Irmãs Pagãs e seu número para Não Beba Tanto Assim) e ainda mais problemático  na relação entre sua história e os números musicais sem que exista um menor esforço de integrá-los. Para completar o som, que na época já era precário se alia uma imagem que ocasionalmente engole determinados trechos da película, e consequentemente, sobretudo versos das canções. Suas tentativas de humor ainda mais sofríveis. Com toda essa precaridade, trata-se do único registro remanescente do período de praticamente toda a “cultura de massa” que começava timidamente a se esboçar à nível nacional, sobretudo através da rádio e do próprio cinema. Destaque para a presença carismática de Mário Reis, cantor que não faz uso da empostação de voz típica da época. Assim como para a apresentação das Irmãs Miranda, Carmen e Aurora, em seus paletós de lamê dourado,  de longe as mais desinibidas e mais confortáveis com a situação de estarem sendo filmadas, mesmo que seu número – ao menos na cópia hoje existente – surja completamente isolado do que vem antes e depois no filme, algo não tão improvável assim dada a condição amadorística da produção.  De toda forma é o registro cinematográfico mais antigo de Carmen, já que o que havia realizado antes, Alô, Alô Brasil (1933) outra produção para o mesmo Wallace Downey, perdeu-se.  Dircinha Batista também não se sai mal e surge à vontade com Pirata da Areia. Volta a aparecer mais adiante com  Muito Riso e Pouco Siso, acompanhada dos Quatro Diabos. Conta ainda com o sexteto vocal, Deixa a Lua Sossegada com Almirante e o Bando da Lua. Um número solo com Aurora cantando Molha o Pano. As Armas e os Barões com Lamartine Babo e Almirante. Alzirinha Camargo ataca de 50% de Amor. Manhãs de Sol com Francisco Alves e Hervê Cordovil. Carmen Miranda retorna, com seu número solo, a nada empolgante Adão.  Cadê Mimi com Mário Reis e um fragmento de Comprei uma Fantasia de Pierrô com Francisco Alves, cujo restante faz parte dos cerca de 15 minutos perdidos de sua metragem original. De longe a mais bizarra de todas as apresentações é a de Francisco Alves com Amei. Não pelo cantor em si, mas pelas soluções cenográficas e visuais como um todo, com um cenário que reproduz uma sala de aula estilizada e crianças separadas pelos respectivos sexos de cada lado, com uma menina diante de todos e próxima do cantor, ao qual ele se refere nos termos do amor romântico que se refere a canção. Fica patente que tal como no filme de sexo explícito, tudo que não seja sexo se torna supérfluo e, pior, habitualmente canhestro. Melhor que os produtores não se tivessem dado ao luxo de tentar interpolar os números musicais com  a dupla de pretensos humoristas que são os autores que buscam dinheiro para montar sua revista musical. Que ficassem somente os números musicais. Ainda que de forma tipicamente exagerada Ruy Castro na biografia de Carmen tenha afirmado que ela foi a única digna de planos próximos de seu rosto, não é verdade. Francisco Alves com a bela Manhãs de Sol tem provavelmente mais planos aproximados que qualquer outro artista no filme. Antecipando as sátiras travestidas das chanchadas da Atlântida existe ainda um número que parodia A Canção dos Aventureiros da ópera O Guarani, numa reação contra um ícone da alta cultura, tal como posteriormente Grande Otelo e Oscarito – que inclusive surge numa ponta aqui -  o fariam de Romeu e Julieta. Cinédia. 60 minutos.

Comentários

  1. Obrigada! Gostei muito da informação--é uma chanchada muito interessante.

    ResponderExcluir
  2. Eu que agradeço pelo comentário! Seja bem vinda sempre ao blog...é sempre bom saber que um ou outro cinéfilo ou mesmo interessado por algum filme específico está lendo o que vem sendo postado.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

A Thousand Days for Mokhtar