Filme do Dia: O Grão (2007), Petrus Cariry
O
Grão (Brasil, 2007). Direção: Petrus Cariry. Rot. Original: Rosemberg Cariry,
Firmino Holanda & Petrus Cariry. Fotografia: Ivo Lopes Araújo. Montagem:
Petrus Cariry & Firmino Holanda. Dir. de arte: Lana Patrícia. Com: Leuda
Bandeira, Verônica Cavalcanti, Nanego Lira, Kelvya Maia, Luís Felipe Ferreira.
Sertão cearense. Percebendo que se encontra próxima a
morrer, Perpétua (Bandeira) conta ao neto Zeca (Lira) uma história sobre as
felicidades e viscissitudes de um rei e uma rainha. Enquanto isso, o pai de
Zeca consegue a sofrida subsistência levando bodes ao Mercado e sua irmã sonha
em se casar e morar na capital.
Menos importa a história em si, rala e pouco dada a efeitos
dramáticos (tal como Cinema, Aspirinas e
Urubus ou outras explorações recentes de uma cotidianidade sertaneja ou
interiorana sob a chave miúda do cotidiano tal como em O Céu de Suely) do que a busca de representação de um tempo
diferenciado, que fica marcado na própria construção do filme, marcado pela repetição
– a avó conta histórias, a mãe trabalha no tear, o pai busca os bodes para
vender no mercado, a filha sonha com o casamento, Zeca brinca com o cachorro. A
comunicação escassa, evocativa de Vidas
Secas se une uma mais que razoável interpretação do elenco como um todo
(comprometido apenas por algumas participações menores como a da professora,
bastante inverossímil) e uma bela fotografia. Assim como enquadramentos dotados
de um certo rigor e senso plástico, no qual a comunhão entre personagens e o ambiente
que os circunda ganha peso. Destaque para o longo traveling na estrada no
prólogo do filme e para a bela imagem do rosto do menino entrevisto pela roda
da fortuna de um jogo de azar, proporcionando um efeito semelhante a de certos
aparelhos ópticos. Porém, um ponto crucial talvez fique a desejar: justamante
uma maior organicidade entre a narrativa contada e o universo retratado. O fato
da narrativa contada pela avó apenas servir de mote para um sofrimento
compartilhado por todo o ser humano, apesar de tocante, soa pouco aderente ao
universo retratado de modo tão arguto pelo filme. Seu desejo de esculpir o
tempo, evocativo de uma certa matriz tarkovskiana, é explicitado na utilização
da mesma aria de Bach utilizada pelo realizador russo em seu O Sacrificio. Em meio ao seu
despojamento explode igualmente um Agnus
Dei. Longa-metragem de estréia do realizador. Iluminura Filmes. 88 minutos.
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