Filme do Dia: Ashik Kerib (1988), Sergei Paradjanov
Ashik Kerib (Ashug-Karibi, URSS, 1988). Direção:
Sergei Paradjanov & Dodô Abashidze. Rot. Adaptado: Gia Badridze, baseado no
conto “Ashik Kerib, o Adorável Menestrel”, de Mikahil Lermontov. Fotografia:
Albert Yavuryan. Música: Dzavanshir Kuliyev. Dir. de arte: Gogi
Aleqsi-Meskhisvilli, Shota Gogolavshvili, Sergei Paradjanov & Niko
Zandukeli. Figurinos: E. Magalashvili. Com: Yuri Mgoyan, Sofiko Chiaureli,
Ramaz Chkhikvadze, Konstantin Stepankov, Veronique Matonidze, Baia Dvalishvili,
David Dovlatian, Levan Natroshvili.
O jovem menestrel Ashik Kerib (Mgoyan) se apaixona pela
filha de um rico mercador, que o rejeita por sua ausência de posses. Kerib
ganha o mundo, após a promessa da jovem não casar dentro do período de mil
dias. Após muitas aventuras, ele retorna no último dia e as bodas ocorrem.
O que mais chama a atenção na produção de Paradjanov, e que
aqui se encontra longe de ser contradito, é o seu desprezo por um viés
narrativo naturalista. Nesse sentido, encontra-se sejam os figurinos e a
maquiagem deliberadamente exageradas, sua movimentação em cena, mais próxima de
representações pictóricas que de uma interpretação naturalista, sua trilha
sonora baseada em canções tradicionais armenas e turcas e, em boa parte, sua
sobreposição sonora entre as vozes dos personagens em cena e a de um narrador
onisciente, servindo tanto para traduzir para a língua da Geórgia o que é
falado em azerbaijão quanto para lembrar a todo momento que se trata de uma
narrativa. O resultado final, ainda que possa ser considerado menor em termos
da filmografia do cineasta, casa-se perfeitamente ao tipo de narrativa
tradicional admirada por Paradjanov, ainda que seja difícil de ser digerido por
um espectador acostumado a um cinema mais convencional. Destaque para a
quantidade de ícones e artefatos culturais e religiosos presentes em cena –
curiosamente o tráfico ilegal desses objetos foi um dos motivos que foram
alegados quando da prisão do realizador pelas autoridades soviéticas – e para
um tributo pessoal ao próprio cinema no último plano de seu último filme, em
que o pombo que é solto em homenagem ao pai da noiva termina por pousar em uma
câmera cinematográfica. Dedicado à memória de Andrei Tarkovski. Quartuli Pilm.
77 minutos.
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