Filme do Dia: Ken Park (2002), Larry Clark & Edward Lachman

Ken Park (EUA/Holanda/França, 2002). Direcao Larry Clark & Edward Lachman. Rot. Original: Larry Clark & Harmony Korine. Fotografia: Larry Clark & Edward Lachman. Montagem: Andrew Hafitz. Dir. de arte: John de Meo. Figurinos: Michele Posch. Com: James Ransone, Tiffany Limos, Stephen Jasso, James Bullard, Mike Apaletegui, Adam Chubbuck, Wade Williams, Amanda Plummer, Julio Oscar Mechoso, Harrison Young, Patricia Place.
          Histórias sobre adolescentes em situações de desajuste social. Claude (Jasso), apaixonado por skate, e vítima da brutalidade do pai (Williams) e da indiferença da mãe (Plummer). Certa noite acorda com o pai lhe tocando e decide sair de casa. Tate (Ransone) é um adolescente desequilibrado que, cansado dos conflitos com os avós (Young e Place) assassina-os. Peaches (Limo) é a garota adorada do pai (Mechoso), idealizada por ele desde que sua esposa, muito semelhante a fillha, morreu. O pai possui uma neurose obsessiva com religião e um verdadeiro culto a mulher falecida.  No dia em que vai ao cemitério conversar com ela, flagra ao retornar Peeches fazendo sexo com seu namorado. Espanca o garoto de maneira selvagem e realiza um casamento em casa com a própria filha. Ken Park (Chubbuck) é um jovem skatista que se suicidou após saber que a namorada havia engravidado dele.
O filme segue a mesma estética de um realismo fisio-fenomenologico de Kids, filme que chamou a atenção para o nome de Clark. Porém, o resultado é ainda mais tosco, em termos de sua capenga e previsível dramaturgia, visivelmente orientada a provocar um succès de scandale, mas que não vai além de um voyeurismo primário sobre os personagens que apresenta no sentido tanto físico – em que a câmera persegue a todo momento a genitália dos atores – quanto moral. Seus personagens caricatos – em especial o pai alcoólatra e obcecado pelo filho e o pai puritano da garota - não conseguem ter a menor densidade psicológica e acabam se tornando tão grotescos quanto os de qualquer jornal sensacionalista. Procurando seguir a trilha de certos realizadores que resolveram cutucar na hipocrisia social da sociedade americana como Todd Solondz e J.P. Anderson, Clark no máximo consegue se aproximar dos piores momentos do primeiro (como o filme Felicidade), já que tanto Solondz quanto Andersen habitualmente tanto possuem um sincero interesse em apresentar o que há de humano em seus personagens, mesmo nas situações mais limítrofes, como procuram transcender a mera questão individual dos mesmos, traçando ao mesmo tempo um vigoroso painel da sociedade americana como um todo. Seu realismo fisio-fenomenologico que explicita atividades sexuais ou fisiológicas via de regra ausentes das telas já foi bem melhor aproveitado  de maneiras bem diversas seja de forma poética e existencial por Wim Wenders (em seu No Decorrer do Tempo) ou erótica e perturbadora por Nagisa Oshima (em O Império dos Sentidos). Talvez o que melhor defina o vazio do filme seja o proprio personagem-titulo, que tem sua motivação para o suicídio retratada em  não mais que uns poucos planos.Busy Bee Prod./Cinéa/Kasander Film Co./Lou Yi Inc./Marathon Int. para Vitagraph Films. 96 minutos.

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